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Milton Nascimento, 80 anos

Foto: Rose Lima/Renato Cipriano/The Music Journal

Estou aqui para agradecer todo o amor que estou recebendo.

Um beijão, um abração e tudo de bom sempre.

Chegamos ao fim dessa Travessia.

Sem palavras para essa despedida dos palcos.

Um muito obrigado e um beijo em cada um que acompanhou “A Última Sessão de Música”.

Um momento maravilhoso de amor entre todos nós.

OBRIGADO,

BITUCA

Milton Nascimento sai de cena dias antes de completar 80 anos neste 16 de novembro.

Não exagero ao dizer que foi a voz da minha geração e, por óbvio, de outras tantas.

Só faço esse destaque por um motivo pessoal, é verdade.

Mas perfeitamente compreensível.

Quem viveu os efervescentes anos 60 e 70 na flor da juventude sabe dizer quem foi a nossa voz.

Quem bem traduziu em canções e interpretações inesquecíveis

nossos sentimentos,

nossos sonhos,

nossos anseios,

nosso tempo…

Perdoem-me a imodéstia, mas é isso…

Particularmente, sou um privilegiado.

Assisti a vários shows do Bituca, colecionei seus discos, e o entrevistei algumas vezes.

Um privilégio, repito – e um aprendizado que, modestamente, levei pra vida.

Resgato agora a última entrevista que fiz com Milton Nascimento/Bituca, em meados dos anos 90, por ocasião da turnê “Crooner” em São Paulo.

Leiam

SOU MESMO UM CANTOR

Os olhos de Bituca são translúcidos.

Veem o que há anos — sabe-se lá quantos — não viam.

Viajam num tempo do tempo que já se perdeu.

Misturam impressões e lembranças.

Bituca é o apelido do cantor e compositor Milton Nascimento que na tarde/noite de quarta-feira esteve no salão Carinhoso, aqui no bairro, gravando um quadro para o programa Video Show.

Quem o conhece nem discute.

Sabe que é o Bituca — e não o Milton — quem está ali admirando os casais dançando, aplaudindo os músicos, trocando informações com o maestro Rosendo.

Bituca/Milton se surpreende quando ouve os acordes de Canção do Estudante que a cantora Marlene interpreta com alma e coração.

“Uma emoção danada”, diz o tímido Bituca.

Um momento glorioso, inesquecível para a cantora:

“Vou lembrar para o resto da minha vida”.

Os olhos de Bituca parecem olhos de saudade do Brasil de ontem.

Dos tempos em que era crooner de orquestra e cantava de tudo um pouco pelas pequenas cidades do interior de Minas Gerais.

O Brasil que voava nas asas da Panair.

O Brasil que ousava provocar o sonho e acreditar na esperança.

“É um pouco disso tudo que tento resgatar no show que atualmente faço no Palace… Me bateu uma baita saudade, cara. Olha, eu sou mesmo um cantor. Até cometo algumas canções como compositor. Mas, o que pega mesmo, em mim, é cantar — e no palco. Veja que barato esse pessoal cantando, dançando… Há tempos não vivia uma coisa assim…”

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