O cantor/compositor Milton Nascimento volta a São Paulo no próximo final de semana. Vem para fazer quatro apresentações no Palace, a partir de quinta-feira, dia 20. Já no próximo domingo (23), após o show, embarca para Nova York, onde participa, dia 25, da festa de entrega do Grammy, o Oscar da música. Seu elepê Txai, lançado rio Brasil em 90, está entre as indicações para a categoria “melhor Álbum”. Uma primazia que, muito modestamente, ele prefere dividir com seus companheiros de MPB. “É a coroação de um trabalho de anos e anos” – disse ele ao repórter do DCI/Shopping News, na tarde de quarta-feira.
Acústico, o show que Milton apresenta em São Paulo, é um espetáculo em que ele exercita o prazer de cantar. “Quero levar para o palco a mesma emoção de quando estou em casa e canto para os amigos aquela música especial, de que a gente gosta muito”, explica ele.
Confira, a seguir, a entrevista de Milton:
DCI/Shopping News – Milton, você vem a São Paulo no próximo final de semana com o mesmo show Acústico que originou o mais recente LP ao vivo, Planeta Blues na Estrada do Sol. Há alguma novidade ou é o mesmo espetáculo que você apresentou no Cultura Artística, no final do ano passado?
Milton Nascimento – Não sei se a gente pode falar em novidades porque esse é um espetáculo muito especial, muito intimista e variado. O clima muda a cada apresentação. É um show em que exercito o prazer de cantar e interpreto músicas de outros compositores como Caetano Veloso, Tom Jobim, Catulo da Paixão Cearense, Edu Lobo, Chico Buarque, nomes que admiro, independente da época em que apareceram. Desde que comecei, em 67, fiquei com a obrigação de fazer meu repertório e só cantar minhas músicas. Agora, fujo um pouco dessa rotina. Achei um grande desperdício trancar entre quatro paredes um repertório que venho depurando há anos, e que me dá tanto prazer em cantar.
DCI/Shopping News – Esse show afasta o seu trabalho daquela linha de defesa da ecologia e das nações indígenas, como vinha ocorrendo nos últimos anos?
Milton – Sim e não. Primeiro porque continuo com as apresentações do Txai marcadas para todo este ano, acompanhado inclusive por outros músicos. Depois porque tenho, na verdade, um compromisso de vida com a aliança dos povos da floresta. Um compromisso que vai além da minha música e da minha profissão. Ao mesmo tempo, entendo que não posso ficar restrito a um tipo de tema, já que as possibilidades do artista são infinitas. A arte é o passaporte para a liberdade.
DCI/Shopping News – Milton, e a carreira internacional, como vai?
Milton – Olha, a carreira vai de vento em popa. Veja: 91 foi um ano gratificante para mim. Fiz uma turnê inesquecível pela América do Norte, Europa e parte da Ásia, com ótima aceitação de público e crítica. Meus discos foram bem cotados e fui lembrado para uma série de premiações. Agora, 92 começa com um pique ainda maior. Foi a surpresa das surpresas ver meu nome indicado entre os possíveis vencedores do Grammy deste ano. Txai concorre na categoria world music/melhor álbum.
DCI/Shopping News – Como o cidadão brasileiro Milton Nascimento, carioca da Tijuca e mineiro por adoção e fé, entende essa indicação, que coloca o seu trabalho entre os melhores do mundo?
Milton – Sinceramente, é a coroação de um trabalho de anos e anos. Mesmo que a gente não vença, valeu a indicação para deixar claro, inclusive aos próprios brasileiros, o privilegiado patamar que ocupa hoje nossa música em todo o mundo. Claro que me sinto orgulhoso pela escolha ter recaído sobre um disco meu; pessoalmente estou superfeliz. Mas entendo que a conquista é de todos nós que trabalhamos pela MPB, mesmo que, muitas vezes, a gente pareça estar nadando contra a corrente dentro do próprio País. Nós que fazemos arte somos inegávelmente os verdadeiros embaixadores do Brasil pelo mundo afora. Somos nós que levamos, aos olhos e ouvidos dos povos mais distantes, cores e sons que retratam nossa gente, sua beleza e seus problemas. E esta é a música mais rica do mundo.