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Morar em Buenos Aires

Se eu morasse em Buenos Aires…
(e olha que não é um má idéia, não)
… eu só andaria de táxis.

A cidade está lotada deles.
De todos os modelos, anos e marcas.
São feinhos, pintados de preto e amarelo.
Um escracho, mas nos levam por preços
razoáveis aonde bem nos interessar.

Melhor que isso.
Estaria livre de pagar o Renavam,
o IPVA, o seguro obrigatório e o facultativo,
as multas, o estacionamento,
o combustível, o flanelinha…

Ter o carro roubado, então, nem pensar…

Ô vida boa…

Se eu morasse em Buenos Aires…
(eis uma dúvida cruel)
… torceria pelo Boca ou pelo River?

Provavelmente continuaria palmeirense,
fã do Felipão e dos toques sutis de Roberto Baggio.
De quando em quando, iria ao estádio
e me divertiria muito ao ler as piadas
que o diário esportivo Olé
faz sobre o futebol brasileiro…

Eles sabem nos provocar…

Se eu morasse em Buenos Aires…
(a cidade já foi mais elegante, hein)
…usaria sandálias hawainas e bermudas.

Neste ano, o verão foi insuportável de quente.
Para ser franco, nunca me senti à vontade
com os tais mocassins argentinos…

Ah, também aproveitaria o fim de tarde
para me largar num daqueles restaurantes de Porto Madeiro.
Vez ou outra, eu sentiria saudades do Brasil…
Nada assim que não pudesse ser
confortado por uma boa Quilmes gelada…

Pensando bem, mas pensando bem mesmo…

Eu precisaria de um bom motivo para
morar em Buenos Aires. Afinal, ninguém
troca de país impunemente. Amor, desamor,
aventura, dinheiro. Oportunidade profissional…

Só algo de muito especial me convenceria
a trocar de ares… Acho mesmo que não
seria tão difícil minha adaptação por lá…

Sempre gostei de tango e paixões que dilaceram.

De qualquer modo, se morasse
mesmo em Buenos Aires, sempre
haveria bons motivos para estar feliz…

É que, vira-e—mexe, estaria hospedando em
meu modesto apartamento, às margens
do rio Prata, grandes amigos que
adoram passear por aquelas plagas.

E quando meu filho viesse me visitar,
traria notícias do Brasil. Teríamos tempo
para por a conversa em dia.

Falar da Ida, do Guilherme…
Lembrar o Geraldo, o Cássio, o Marceleza…
Que a ‘Queijinho’ casou com um polonês
e se mandou para a Europa… E o Bebê,
quem diria?, está namorando…

— Ah, o jornal do João vai bem,
obrigado, ele me diria…

Por certo, celebraria o encontro
com a promessa de voltarmos
a trabalhar juntos um dia, todos nós…

Meu filho sorriria desconfiado
da nostalgia paterna…

Mas, nós dois lembraríamos o velho “Rudge”…

Bons tempos, companheiro, bons tempos…
Tempos de pizza nos fechamentos às
quintas-feiras, do riso frouxo e de
uma amizade tão espontânea
que nem dava tempo de perceber
o quanto éramos felizes…

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