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Muito sono de manhã

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Foto: Jô Rabelo

Haja café!

Sei pouco – quase nada – de amor e de samba, mas tal e qual o personagem daquele samba antiguinho do Chico Buarque “tenho muito sono de manhã”.

Fico travado das ideias.

Me recosto aqui e ali na vã tentativa de logo me pôr em pé e disposto.

O que, diga-se, só acontece no meio da tarde depois de um cochilo pós-almoço.

Acho que é coisa da idade.

Não sei.

O doutor diz que é preguiça mental, hábito que afeta o psicológico…

– Durma mais cedo.

Não era assim.

Juro.

Acordava, tomava uma chuveirada e zap. Ia pra rua, pra lida que, à época dos jornalões e seus intrincados fechamentos de edição, se prolongavam até as primeiras horas da madrugada.

Não sentia cansaço.

Estava sempre comprometido com esse ou aquele compromisso. Uma entrevista a fazer, um texto para entregar em cima do laço, um frila que pintasse à última hora, a edição da derradeira página do jornal a concluir no adiantado da hora… Uma (des)rotina agitada

Um ir e vir constante atrás do tudo e do nada que a profissão nos impõe.

Um corre doido na caça de uns trocos pra tocar a vida e os sonhos.

Peço sinceras desculpas pelo desabafo.

Espero que os amáveis cinco ou seis leitores (se é que ainda andam por aqui) me entendam.

Precisava lhes confessar isso.

Tenho publicado meus textos diários cada vez mais tarde.

Alguém me disse, certa vez, que tal atraso compromete a audiência, os cliques, a repercussão.

O ideal seria fazer a postagem assim que o fato acontece.

Hãhã.

Lembro a didática recomendação – e faço um contraponto com outra lembrança.

Ao saber que eu havia criado o Blog, lá naqueles idos de 2006, o amigo Júlio Veríssimo sapecou a melhor definição que ouvi sobre o tema:

“O Blog é o playground do jornalista”.

Falou e disse.

É quando nos livramos das amarras.

Dos patrões.

Dos prazos.

E, infelizmente, do holerite e as benesses do dia 5.

(Dia 30 cai a primeira parcela do 13°. Ô saudade)

Vale o que vale tocar um Blog.

Vale o escrever por escrever.

O entreter-se.

O entender-se com eventuais e distraídos leitores e consigo mesmo.

Deixemos de literatices.

Vamos ao fato. Estou terminando de ler O Diário de Antônio Maria, o sensível relato de um de nossos melhores cronistas Antônio Maria Araújo de Moraes (1921/1964).

Há 60 anos, o Menino Grande nos deixou.

Menino Grande. Assim ele se autodefinia.

Tinha 1,90 metro de altura e sentimentos e paixões.

Não vi sequer uma linha de reverência ou tributo na grande mídia.

Ele foi um dos pilares da crônica e do jornalismo dos anos 40 e 50.

Também foi radialista e compositor de belos sambas-canções. O mais famoso deles é o pungente “Ninguém me Ama”.

Enfim…

De qualquer forma, desconfio que o tom confessional da narrativa me pegou em cheio.

Me influenciou no post/crônica de hoje.

Melhor assim.

(11h58. Isto é hora de publicar a crônica do dia!)

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