Faz algum tempo.
Sabem como é, depois de certa idade, tudo o que nos salta, como referência, tem cheiro e gosto de memória.
Mas, como comecei dizendo…
Faz algum tempo, uns 15, 20 anos mais ou menos, alguém me disse, num desses encontros acadêmicos, que todos seríamos solitários em um futuro não tão remoto assim.
Solitários, por opção.
Todos viveríamos em casulos e, por mais que estivéssemos rodeados de pessoas, amigas e não tão amigas assim, nos sentiríamos ausentes ou, minimamente, distantes uns dos outros.
O senhor palestrante até citou os shoppings como exemplo de “casulos”. Falou também da moda dos estúdios, micros apartamentos, com espaço para uma só pessoa. Seriam raras as atividades a céu aberto – apostou o digníssimo. Não deu um prazo de tempo. Mas, que falou, falou. E eu não esqueci e, festeiro que sou, fiquei incomodado com a assertiva.
(…)
Começo a me convencer desta realidade.
O futuro chegou, meus caros. Não é o que almejávamos, mas está aí.
Olhem ao seu redor. Vejam o tanto de gente com o nariz enfiado na tela do celular. Teclam, postam, comentam, compartilham. Imaginam estar conectados com o mundo, mas exibem-se, principalmente, para si mesmo.
Dá para dizer que é uma espécie de casulo, ou seria exagero?
Talvez sim, talvez não…
(…)
Como não sou adepto da solidão e de seus correlatos (desconfio que até por isso não tenho face, instagram e afins), saio deste carnaval um tantinho mais esperançoso (se é que é possível algum rasgo de otimismo neste trepidante 2016). Os blocos de rua que pipocaram, aos milhares, nas mais diversas cidades brasileiras vão à contramão da tendência da tal hibernação websitiana.
Eu sei que alguém vai dizer que carnaval é bem assim mesmo. Vale tudo, uma exceção aos dias normais. E que a rapaziada, mesmo embalada em sol, suor e cerveja, estava devidamente equipada com o celular bem ao alcance dos dedos.
De qualquer forma, foi muito bom ver o povão na rua.
Mais do que nunca, o brasileiro precisa resgatar a vocação para ser feliz; sobretudo, para se fazer solidário, e fraterno.