A fila do banco já não é mais propriamente uma fila.
Há um pequeno ‘auditório’, com 20 cadeiras, diante dos ‘caixas’ em performances. Você pega uma senha antes de sentar-se e espera pacientemente o luminoso apontar o número que em mãos. Não significa que será atendido rapidamente. Pode ser, mas pode não ser; especialmente se for um dia como o de hoje, 11, quando todo o pessoal deixou para pagar as contar do dia 10.
Se o amável leitor tiver mais de 60 como eu ou for gestante como a moça à minha esquerda, tem o direito de pegar “a senha preferencial”. Há um caixa especial para você.
“Não se iluda”, me diz a moça ao lado. “Melhor pegar também a senha comum”.
Diante da minha expressão de desentendido, ela acha conveniente explicar:
“É que os vovozinhos e as vovozinhas são mais demorados quando chegam ao guichê. Gostam de conversar, de conferir tudo detalhe por detalhe. Às vezes, compensa ficar com as duas senhas”.
Ela não fala por mal. Diverte-se com a cena da senhorinha, diante do balcão, a remexer a bolsa em busca do provável boleto para o pagamento.
Dá um tom carinhoso para a voz e diz:
– Será que chego a essa idade?
– Claro que sim, respondo mais por educação e sem certeza alguma.
Não ando longe da idade da senhorinha. É certo que a futura mamãe se deu conta disso. Imagino que ela deve estar me alertando para ser rápido. Ou apenas puxando conversa, pois ao que parece teremos um bom tempo pela frente até ser atendidos.
Seja como for me abstraio do papo – e lembro o amigo Nasci. Acho que ando saudoso de seus conselhos. Um deles é para vivermos no juízo, mas com alguma loucura.
“Tenha a idade que tiver, não perca a ousadia de aventurar-se”.
“A vida – dizia ele, a bordo de seu inseparável cachimbo – não é só ficar na fila do banco para pagar a conta do mês”.
O luminoso indicou o número da moça. Ela se levantou e me desejou um bom dia. Sorri agradecido – eu serei o próximo. Estou com as faturas nas mãos para não perder tempo no guichê. Já no quesito ‘aventura’, desconfio, ando devendo na praça…