“Não tenho muitas lembranças daqueles dias.
Na hora em que o África Maru partiu lentamente, os adultos atiravam uma espécie de serpentina colorida que encheu de fantasia meus olhos de criança.
Depois vieram dois meses difíceis.
Lembro de ver o sol nascer na água e, à tardinha, quando se ia o sol também desaparecia na água.
Era tudo o que víamos – sol e mar.
O irmão era tão danado que não parava com a família.
Estava sempre arrumando um jeito de ajudar aos garçons e aos marinheiros.
Procurava o que fazer.
Quando chegamos ao porto de Santos, ouvíamos muitas histórias horríveis.
(…)
Essas histórias nos deixavam apreensivos, com medo mesmo.
Chegávamos em um novo mundo – e tínhamos que aprender a desbravá-lo.
Mas esse temor não existia para Katsumi.
Não existiu nesse dia e, ao que consta, não existiu em toda sua vida.
Assim como naqueles dias no navio, ele se manteve invariavelmente ativo, trabalhando.
Fez isso durante toda sua vida.
Venceu as dificuldades – e, a seu modo, foi feliz e fez feliz quem, como eu, esteve ao seu redor.”
* Depoimento de Massae, no livro “Katsumi Hirota – Um legado para gerações”, lançado na noite de ontem, em São Paulo. Massae é a irmã caçula de Katsumi e tinha apenas quatro anos quando partiu do Japão, com a família em 1935. Katsumi tinha então 8 anos. Foi uma honra para mim escrever essa história de vida.