Acordo – e, direto e reto, vou fuçar o celular. Saber das notícias do dia. Tentar me livrar da amarga experiência do dia anterior. Quem sabe não passou de um pesadelo, daqueles medonhos, o que vivi na manhã de ontem? Assim que toquei no celular topei com as feições transtornadas de Donald Trump como presidente eleito dos Estados Unidos.
Não foi fácil assimilar que era vida real.
II.
Os amigos que moram nos Estados Unidos – alguns legalizados, outros com a situação encaminhada e uns poucos na baiuca da clandestinidade – enchem minha caixa de recados. Querem desabafar seus temores e decepções.
Um deles:
“Não conhecia esse lado dos americanos de lidar com a política. Tô pasma!”
Vou dizer o quê pra moça?
O mundo acordou apatetado com a surpresa.
Os institutos de pesquisas, os analistas políticos, a OTAN e demais aliados, o mercado financeiro… Incluo aqui os inimigos e, querem saber?, até os próprios americanos.
Todos despertaram para outro passo atrás que dá a Humanidade.
“É inconcebível” – exclama o ex-aluno, com mestrado em andamento em uma universidade na Carolina do Norte.
III.
Ainda via celular, consulto os noticiários do dia e Trump continua lá. Só que agora com a expressão suavizada assim como o discurso de posse em tom de unificação, e pacificador,
No whats, o Gringo, um professor venezuelano que conheci em um Congresso no Uruguai, dizque Trump não é o tosco que se mostrou durante a campanha.
“Ele encarnou o personagem que o americano médio queria ver em cena. O brutamonte imperialista que faz e desfaz indiferente ao que pensa ou deixa de pensar o mundo ao redor. O senhor das guerras… A identificação foi imediata.”
O Grinco alivia na mensagem seguinte:
“Ele não vai dar conta de realizar as estultices que prometeu.”
E ressalta:
“Mas, vai descontruir a era Obama. Isso vai…”
IV.
Largo o celular para enfrentar a vida real.
E tento me convencer que está tudo sob controle.
Não sei o porquê me vem à mente o verso emblemático de uma antiga canção dos meus tempos de rapaz:
“Mas, não se preocupe meu amigo
com os horrores que eu lhe digo.
Isso é somente uma canção.
A vida…
A vida é muito pior”
Pensei em lhe responder assim. Mas, preferi o indefectível “vida que segue”.
Afinal, estamos todos na mesma barca…