Ela só queria reaprumar a vida.
Depois de um casamento impulsivo em que se deixou levar pelas graças da paixão, andava cansada da solteirice, da liberdade de ser dona de si, das baladas e dos amores voláteis. Por isso, quando Raul apareceu, entendeu logo no primeiro encontro que era ele o caminho, a verdade. O amor viria com o tempo e a convivência.
Descasado, como ela.
Com um casal de filhos pequenos, como os dela.
Economicamente ajustado, como ela.
Também exibindo, como ela, certo fastio pelas venturas e desventuras de ser só.
Fechou questão sobre o assunto.
E, para sua felicidade, percebeu logo que ele também estava na mesma sintonia.
Melhor de tudo.
Com o passar dos dias, entendiam-se cada vez mais, e melhor.
Em todos os sentidos, inclusive naquele tal e imprescindível a qualquer casal.
Viviam bem. Cada um em sua casa, com devidos pernoites ora aqui ora acolá. Para que “o tal e o imprescindível” se consumasse.
Divertia-se em chamá-lo de namorido.
Com o tempo, uma pequena sombra passou a toldar a alma da moçoila.
A satisfação com que Raul ouvia o tal chamado.
Namorido. Ria que ria e nada dizia.
Desconfiou que, por ele, a coisa toda continuaria, para sempre, nesse pé.
Três ou quatro noites por semana (incluindo o sábado e/ou o domingo) com ela e tempo livre para jogar pôquer com os amigos, ir ao futebol e até uma ou outra escapada pelos barzinhos da vida.
Ademais, era paparicado pela mãe, setentona, mas em pleno domínio de si, da própria vida e da vida do quarentão. Para a senhora, “um eterno bebê”.
Nossa heroína logo concluiu:
Era preciso agir – e rápido para não ser, na melhor das hipóteses, eternamente a namorida do namorido.
* AMANHÃ CONTINUA…