Já repararam que vivemos a era do “não sei”, do “entendi”?
Então reparem.
Parece que nesses dias confusos não ter convicção alguma sobre qualquer coisa é fundamental para ser feliz – e amanhã ou depois ou hoje mesmo desdizer tudo o que se disse.
Exemplos não faltam.
— Vai comer o quê?, pergunta o garçom solícito.
E a resposta é:
— Não sei.
Outro caso.
–Tati, você vai ficar com Fulano hoje?
E a amiga responde para a amiga de balada:
— Não sei.
Em consequência, temos a alta popularidade dos restaurantes ‘bandejões’, onde cada um faz o próprio prato e a mistureba, por vezes, tem efeitos desatrosos.
Já a nossa personagem Tati no galopar da madrugada, alegrinha que só, derrubou Fulano, Beltrano, Sicrano, Afrânio e Orelano e ainda se fez de difícil a um outro que ela nem se preocupou em perguntar o nome e lhe perguntou se voltaria na noite seguinte:
— Não sei.
E vida que segue…
Já com o “entendi” a parada é diferente.
As pessoas passaram a usar a expressão para se livrar da cantilena do interlocutor.
— Então, como lhe disse, a situação econômica do País é estável. Porém, depende de aportes financeiros e cousa e lousa e mariposa.
No primeiro vacilo do falador, ouve-se o discreto:
— Entendi
É a senha de que esse conversê do amigo já deu…
Tem também aquele caso do rapaz alucinado que diz a moça tudo o que lhe vai ao coração.
— Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer como é grande o meu amor por você. E não há nada pra comparar, para poder lhe explicar como é grande o meu amor por você. Nem mesmo o céu, nem as estrelas. Nem mesmo o mar e o infinito, não é maior que o meu amor nem mais bonito…
Ela ouve a tudo, em silêncio, a consultar o visor do celular.
O alucinado rapaz continua:
— Me desespero a procurar alguma forma de lhe falar como é grande o meu amor por você.
Diante de tantos e tamanhos apelos, ela se pronuncia:
— Entendi.
Se o rapaz tiver o mínimo de percepção das coisas do mundo, saberá que ela o está achando um trolha que fala, fala e nada diz.
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