Quando acabou de tocar, o músico de rua, que fazia ponto e ganhava a vida ali nas imediações do Conjunto Nacional, percebeu minha emoção. Veio em minha direção e disse:
— Quer que eu toque de novo…
Agradeci, sem jeito e surpreso.
— Melhor não…
E deixei um bom trocado no boné que estendeu a outros incautos ouvintes.
Tive ali a certeza que ele nasceu para ser músico. Pois, mesmo que não soubesse ler partituras, soube – e como! – ler a alma de um cara que, ali, viveu um momento inesquecível.
Quando o grupo de estudantes de jornalismo, formado por Claudia Junqueira, Daniele Vieira, Felipe Costa, Grasiella Reys, Tâmara Magalhães e Vanessa Viega, me procurou para orientá-los no livrorreportagem, “Nas ruas de Sampa”, de imediato lembrei-me deste episódio.
Soube agora, após a leitura das páginas, que o músico se chama Emerson e que ele também – um artista nato – sofreu com a repressão que a Prefeitura de São Paulo vem perpetrando, desde outubro de 2010, contra os artistas de rua que vivem na Metrópole.
O livro é um mais do que oportuno o registro documental deste momento de luta.
Importante que se divulgue a ação diária desse pessoal que tem a coragem grande de dizer SIM. Que vive com a emoção à flor da pele. E faz com que sua arte nos livre do cinza pesado da cidade e dos nossos afazeres. Sons e emoções que conduzem aos sonhos – e, por vezes, nos emocionam às lagrimas.
Esta cidade é deles também. Os artistas que vão onde o povo está…
Não há o porquê de reprimi-los.
Parabéns aos jovens pela iniciativa corajosa de “comprar” a causa e a briga.
O jornalismo deve sempre lutar pelo inalienável direito da liberdade de expressão – seja ela qual for; a artística, inclusive e principalmente.
*O livrorreportagem foi apresentado ontem como trabalho de conclusão do curso de jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo, e aprovado pela banca composta pela professora Eloiza Oliveira, o professor José Reis e este humilde blogueiro.
* O artista de rua Tim Max apresentou-se ao distinto público do auditório Sigma.