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Natel e o Opala

O que vou narrar a seguir
nem os arquivos mais
que completos do Élio Gaspari
registram sobre os anos 70.

Foi assim…

Eu e o amigo Clóvis
estudávamos na ECA/USP
e mal termináramos de concluir
o curso de Jornalismo.

Com a cara, a coragem
e nenhum dinheiro, abrimos
um jornal de bairro, na Mooca.

Usávamos, como sede, a garagem e o subsolo
da casa onde ele morava com a família.
Era um lugar amplo, com apenas um
inconveniente. O dono da casa, pai do Clóvis,
viajava muito a serviço. Mas quando chegava,
era inevitável: usava parte do espaço
da nossa aguerrida Redação para guardar
o impávido Opala quatro portas.

Aliás, fazia mais. Deixava aberto o capô,
o porta-malas e todas as portas “para
refrigerar e assim evitar ferrugem”.

Para nós, nada de mais porque
defendíamos o pão de cada dia em outros
empregos e só à noite nos
reuníamos para tocar o jornal.

Foi numa dessas tardes que
o ex-governador Laudo Natel resolveu
nos fazer uma surpresa. A bem da verdade,
parece que todos ficaram surpresos e perplexos,
inclusive o próprio Natel ao deparar
com o inusitado da situação.

Lá estava o possante, todo arreganhado…

Mesmo assim, não hesitou — ossos
de ofício da vida pública – e acabou
entrando, a desviar das portas e tralhas,
com alguma agilidade.

Só soubemos da história à noite,
Informados pelo próprio morador
que, de pijamas e imbuído
do mais alto espírito jornalístico,
registrou o fato pelas lentes
da nossa indomável Polaroid…

Afinal, Natel era candidato
à indicação presidencial que
o levaria de volta ao Palácio dos
Bandeirantes. Eram tempos ditatoriais,
os anos de chumbo, não havia
eleições e o presidente-general
de plantão escolhia o governador
de São Paulo, como de resto dos demais
estados brasileiros…

Por isso, na sexta-feira seguinte, o valoroso
Jornal da Mooca não deixou de registrar
o fato encimado pelo notável título:
“Laudo Natel visita nossa Redação”.
E uma linha fina que, de forma categórica,
concluía: “Mas, nós não estávamos”.

Até hoje desconfio da abrangência
do nosso bravo tablóide. Saía quinzenalmente,
tinha oito páginas e circulava na Mooca,
com 5 mil exemplares.

Mas, o certo é que, mesmo com todo
o favoritismo de Natel,o governador
escolhido, lá na longínqüa Brasília,
meses depois, foi Paulo Maluf…

E ele nem nos visitou…

Algo me diz que contaram tal história,
lá na Capital Federal, e
os manda-chuvas do País desacreditaram
e resolveram ‘aposentar’ o nome de Natel…

É o que desconfio…

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