Sempre que posso fujo para São José do Barreiro, uma cidadezinha de 5 mil habitantes ao pé da Serra da Bocaina, ali nos confins do Vale do Paraíba. Na medida do possível, nessas idas e vindas, há ocasiões em que paro em Aparecida do Norte para uma visita ao santuário que oração e fé nunca são demais nesse risque-e-rabisque de vida que vivemos.
Aproveito o 12 de outubro, dia da Padroeira, para lhes contar uma história que me aconteceu naquelas abençoadas paragens da cidade de Aparecida do Norte. Antecipo que não foi propriamente um milagre, mas diria que há controvérsias.
Foi numa tarde/noite de sexta-feira que se perdeu em tempos remotos. Precisei ir a Barreiros por um motivo qualquer: um jogo de futebol, um churrasco, uma festa de aniversário da cidade. Preferi ir de ônibus porque sozinho, quatro a cinco horas de carro pela Dutra, ninguém merece. Na verdade, era um desses coletivos confortáveis que tinha como destino o Rio de Janeiro – eu desceria na pequena de Queluz e, dali, arrumaria uma carona até Barreiros que dista (acho que nunca usei essa palavra) 36 quilômetros da cidade que fica às margens do rio Paraíba.
Ao entrar no Cometão, percebi que grande número de passageiros era de senhoras de meia idade. Vestiam-se sobriamente e conversavam entre si. Foi só uma constatação rápida. Logo me ajeitei no banco do fundão e, minutos depois, já dormia o sono dos justos e dos entediados.
Devo ter tido algum pesadelo, não sei. Ao cabo de hora e meia, despertou-me uma cantoria divinal:
Viva Mãe de Deus e nossa
Sem pecado concebida
Viva a Virgem Imaculada
OH! Senhora Aparecida…
Acordei sobressaltado, sem nada entender. Já era noite. Não identifiquei o lugar onde estava. As vozes a saudar Maria. O que seria aquilo? Pecador confesso que sou, conformou-me a idéia de que, fosse o que fosse que tivesse acontecido, no mínimo eu devia estar chegando aos Céus.
Levei alguns instantes para me tocar que passávamos pelo trecho de estrada em frente à Basílica de Aparecida. Aquelas senhoras eram, na verdade, freiras que voltavam de algum encontro religioso em São Paulo e agora cantavam em louvor à Santíssima. Em tom afinadíssimo, diga-se.
Gostei da sensação de estar chegando aos Céus. Mas, meus queridos, se querem saber e acho que devo esta explicação a vocês, meus caríssimos cinco ou seis leitores, gostei ainda mais — e fiquei aliviado — de me sentir vivo e aqui na Terra. Firme e forte no tal risque-e-rabisque da vida, sempre sob a proteção da Padroeira do Brasil e dos brasileiros…