De lá para cá, mais do que antiquíssima, a corrução se tornou atualíssima. Tirei o p da palavra porque o Murilo (Mendes, o poeta) não o pronunciava. Já devia ter sido furtado por algum reformador ortográfico.
Com p ou sem p, antiquíssima, a corrupção sempre existiu. Lá está no Gênesis que, assim que os homens começaram a se multiplicar, o senhor viu que a maldade deles era grande. Ferido de íntima dor, arrependeu-se de ter criado o homem. E veio dilúvio. Pois ainda assim a bandalheira continuou de tal forma que foi preciso mandar uma chuva de enxofre e de fogo para destruir Sodoma e Gomorra.
Quem acompanha hoje a vida pública brasileira deve achar uma injustiça o que Senhor fez com Sodoma e Gomorra.
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Trecho da crônica “Saudades de Sodoma”, de autoria de Otto Lara Resende (foto), publicada em 31 de julho de 1991, na página 2 da Folha de S.Paulo. Consta também da coletânea “Bom dia para nascer”, do mesmo autor e jornalista, lançada pela Companhia das Letras, em 2011, com seleção e posfácio de Humberto Werneck.
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Quase 30 anos depois – e tudo continua na mesma… Ou pior.
Quando reli a crônica, dia desses, e comentei o conteúdo para o Marceleza, o amigo não teve dúvidas:
"O pessoal de Sodoma e Gomorra eram juvenis diante dos malandros-otários de agora. Concorda?"
Preferi não comentar.