– Patrão bom nasce morto!
A frase ecoava forte, solene na velha redação assoalhada, onde comecei meus dias de repórter.
Quem a dizia em tom solene, professoral era o velho Zé Jofre. À época, devia andar pelos 60 e lhe eram inconfundíveis o sotaque cearence e a crueza com que tratava a vida.
Não poupava quem estava no poder.
Socialista, dedicara os anos da juventude à luta em prol da causa.
Começou como gráfico, passou pelo jornalismo e, quando o conheci, era chefe do Departamento de Distribuição do jornal. A ditadura o afastara da reportagem e dos textos. Era mais seguro “esconder-se” num cargo administrativo.
Para a alegria dos mais jovens, era presença diária na redação. Bebíamos da sua fonte. Ele, em contrapartida, nos espicaçava – especialmente, a mim, estudante de jornalismo da USP, filho de operário e ‘revoltadinho’ por natureza.
— Você é um burguesinho alienado…
Trecho do conto “A lição do Zé Jofre”, no livro
Meus Caros amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões.
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