Hoje, é sexta-feira.
Prepare-se, pois…
No meio da Marginal tinha um caminhão quebrado
tinha um caminhão quebrado no meio da Marginal
tinha um caminhão quebrado
no meio da Marginal tinha um caminhão quebrado.
Nunca me esquecerei desse congestionamento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio da Marginal
tinha um caminhão quebrado
tinha um caminhão quebrado no meio da Marginal
no meio da Marginal tinha um caminhão quebrado
* Carlos Drummond de Andrade escreveu
No meio do caminho em 1928, para ser publicado
na Revista Antropofagia. Que o poeta me perdoe
o uso espúrio do poema. Mas, foi inevitável
a inspiração e o meu desespero. Sei que ele jamais
suspeitaria da dura realidade da vida do paulistano que,
80 anos depois e por força das circunstâncias,
se vê obrigado a adaptar sua poesia às agruras
do caos urbano em que a cidade se transformou.
* a poesia de Drummond em Uns & Outros.