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No Parque Iguaçu… *

Faço o trajeto turístico do Parque Nacional de Foz do Iguaçu a passos lentos. Um olho na exuberância das cataratas que me ladeiam, outro nos quatis que caminham em sentido contrário ao meu pela mesma pista.

Assim que chegamos ouvimos a recomendação dos funcionários do Parque para não alimenta-los, nem se aproximar muito dos bichinhos que habitam o lugar e são inofensivos quando não se excitam pelo cheiro de comida.

Achei justificável o aviso – e engulo a barra de cereal que trago no bolso da jaqueta. Não estou com fome, mas não quero confusão.

Só fico desconfiado do repelente aos mosquitos que passei na pele.

Será que posso topar com algum quati resfriado que confunda os odores e me atacar?

Dou risada sozinho das minhas aflições, não tão infundadas assim. Logo adiante topo com uma turista de outro grupo, pálida com o susto que levou depois de um ataque de um quati à sua bolsa, repleta de chocolates.

Acelero um tantinho o passo – e me distancio do meu pessoal e do bando de animais.

Sinceramente, desconfio que não me afino com nenhum dos grupos. O primeiro que segue em ritmo ‘quase parando’ de tantas fotos e selfies que fazem. O segundo, por razões já expostas e sabidas. Não sou de intimidades com os animais, seja qual for a espécie.

A bem da verdade, só o deslumbramento das águas é capaz de atiçar a um urbanoide como eu estar ali, naquela exata manhã.

Um deslumbre plenamente recompensado quando você está na passarela sobre as águas do rio Iguaçu a dezena de metros dos saltos mais volumosos.

Inexplicável a sensação da pequenez do homem diante da força (e da beleza) da natureza. Só com o respingar das águas você fica encharcado.

Mas, estar ali é mesmo uma bênção.

Percebo a emoção das pessoas. Há os que cantam, os que riem, os que se abraçam, os que vão-e-voltam para sentir novamente o mesmo frenesi e, óbvio, os que tiram fotos e filmam com celulares e outras engenhocas.

Todos celebram.

Estão com a alma lavada e enxaguada, felizes.
II.

Faz alguns (muitos) anos que não venho para esses lados fronteiriços.

Está tudo tão diferente e, ao mesmo tempo, tão igual.

O Parque agora é privatizado, cobra-se para entrar (quase 30 paus, os acima de 60 como eu pagam sete) e exibe, vá lá, um certo padrão Fifa. Tudo organizado e limpinho.

Mas, o que pega mesmo é o deslumbrante espetáculo da natureza.

Alguém me diz que há coisa de 30, 40 dias, o volume das águas estava “absurdamente gigante”, quarenta vezes maior do que hoje (naquele dia) vemos.

Fico imaginando a proporção da coisa toda.

Lembro a primeira vez que estive por aqui (foram 15 horas de viagem a bordo de um possante Opala). Eu era um jovem cabeludo, e algo inconsequente. Visitar Foz do Iguaçu e a desaparecida Sete Quedas estava em moda. O cartão postal com imagens das cachoeiras era convidativo, e a possibilidade de compras nas cidades vizinhas do Paraguai e Argentina (Ciudad Del Est chamava-se Porto Stroessner e Porto Iguazu era Porto Iguazu mesmo) nos arrebatava. Não havia os tais dutty free, mas os casacos de couro argentinos, os tênis importados, os perfumes, os cigarros americanos eram as coqueluches.
Lembro de me sentir, na ocasião, o próprio playboy internacional.

Como disse, era um jovem cabeludo, e algo inconsequente.

Voltei aqui duas ou três vezes, tal meu encantamento.

Encantamento que ora se repete enquanto caminho para fora da passarela, rumo à parada final onde há um elevador que nos levará a uma plataforma que oferece um belo visual de todo o Parque – as quedas d’água, o rio serpenteando, as margens e a vegetação que lhes abriga.

É muito bom poder estar aqui.

III.

É na plataforma que encontro o pessoal à minha espera. Riem do meu estado, com as roupas e o que me restou de cabelo encharcados, como se houvesse apanhado uma chuva daquelas.

Querem saber o porquê não me protegi do banho com as capas de plástico que são vendidas em toda extensão da trilha por módicos cinco reais.

– Não sabem o que perderam, digo. – É uma benção essa água toda na gente.

– Imagina se eu iria comprometer minha chapinha, me diz a moça ao lado do namorado, com um quati de pelúcia nos braços. Justo ela que teve a bolsa atacada pelo quati momentos antes e que entrou em pânico com a cena.

Vá entender as mulheres.

Aliás, há um grupo delas a rodear a estátua de Santos Dumont que existe no jardim próximo à praça onde pegaremos o ônibus para voltar.

O audaz “brasileiro voador” é considerado um dos pais do Parque, pois conheceu as cataratas em 1916 e, desde o primeiro momento, defendeu a ideia de que aquele deslumbrante cenário “não podia ser de apenas um só” (o uruguaio Jésus Val) e, sim, aberto a todos os brasileiros.

Vou até o local para testemunhar a reverência das mulheres ao Pai da Aviação.

Não é bem isso. Elas querem mesmo é uma selfie ao lado de Santos Dumont “para bombar nas redes sociais”. E não economizam em caras, bocas, trejeitos e poses.

Está tudo tão igual e, ao mesmo tempo, tão diferente.

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