II.
Faz alguns (muitos) anos que não venho para esses lados fronteiriços.
Está tudo tão diferente e, ao mesmo tempo, tão igual.
O Parque agora é privatizado, cobra-se para entrar (quase 30 paus, os acima de 60 como eu pagam sete) e exibe, vá lá, um certo padrão Fifa. Tudo organizado e limpinho.
Mas, o que pega mesmo é o deslumbrante espetáculo da natureza.
Alguém me diz que há coisa de 30, 40 dias, o volume das águas estava “absurdamente gigante”, quarenta vezes maior do que hoje (naquele dia) vemos.
Fico imaginando a proporção da coisa toda.
Lembro a primeira vez que estive por aqui (foram 15 horas de viagem a bordo de um possante Opala). Eu era um jovem cabeludo, e algo inconsequente. Visitar Foz do Iguaçu e a desaparecida Sete Quedas estava em moda. O cartão postal com imagens das cachoeiras era convidativo, e a possibilidade de compras nas cidades vizinhas do Paraguai e Argentina (Ciudad Del Est chamava-se Porto Stroessner e Porto Iguazu era Porto Iguazu mesmo) nos arrebatava. Não havia os tais dutty free, mas os casacos de couro argentinos, os tênis importados, os perfumes, os cigarros americanos eram as coqueluches.
Lembro de me sentir, na ocasião, o próprio playboy internacional.
Como disse, era um jovem cabeludo, e algo inconsequente.
Voltei aqui duas ou três vezes, tal meu encantamento.
Encantamento que ora se repete enquanto caminho para fora da passarela, rumo à parada final onde há um elevador que nos levará a uma plataforma que oferece um belo visual de todo o Parque – as quedas d’água, o rio serpenteando, as margens e a vegetação que lhes abriga.
É muito bom poder estar aqui.
III.
É na plataforma que encontro o pessoal à minha espera. Riem do meu estado, com as roupas e o que me restou de cabelo encharcados, como se houvesse apanhado uma chuva daquelas.
Querem saber o porquê não me protegi do banho com as capas de plástico que são vendidas em toda extensão da trilha por módicos cinco reais.
– Não sabem o que perderam, digo. – É uma benção essa água toda na gente.
– Imagina se eu iria comprometer minha chapinha, me diz a moça ao lado do namorado, com um quati de pelúcia nos braços. Justo ela que teve a bolsa atacada pelo quati momentos antes e que entrou em pânico com a cena.
Vá entender as mulheres.
Aliás, há um grupo delas a rodear a estátua de Santos Dumont que existe no jardim próximo à praça onde pegaremos o ônibus para voltar.
O audaz “brasileiro voador” é considerado um dos pais do Parque, pois conheceu as cataratas em 1916 e, desde o primeiro momento, defendeu a ideia de que aquele deslumbrante cenário “não podia ser de apenas um só” (o uruguaio Jésus Val) e, sim, aberto a todos os brasileiros.
Vou até o local para testemunhar a reverência das mulheres ao Pai da Aviação.
Não é bem isso. Elas querem mesmo é uma selfie ao lado de Santos Dumont “para bombar nas redes sociais”. E não economizam em caras, bocas, trejeitos e poses.
Está tudo tão igual e, ao mesmo tempo, tão diferente.