– Do que falam aqueles ali?
– Ali, onde, meu?
– Ali, junto ao balcão do café.
– Sei lá, nunca os vi mais gordos, nem mais magros.
– A moça parece bonita. Parece que tenta confortar o homem. Olhe, olhe…
– Lá vem você com sua imaginação de autor de novela. Vê romance em tudo.
– A vida é uma romance, meu caro. E, posso lhe garantir, nem sempre tem um final feliz. Repare o desespero nos olhos dele. Veja como tenta articular frases que não se completam.
– Meu Deus, como você consegue? O aeroporto entupido de gente, os voos que não saem, estamos mais do que atrasados para a nossa conferência a mil quilômetros daqui – e você aí a se imiscuir na vida alheia.
– As mulheres são implacáveis. Quando decidem pelo não, nada as fazem voltar atrás. Pobre rapaz. Eu que não queria estar na pele dele. Dói pra caramba.
– Ele aprontou alguma, não acha? Se não ela não estaria assim, tão… tão decidida.
– Às vezes, sim. Às vezes, não. A gente nunca sabe bem o que é que quer uma mulher.
– Ops. Isso é letra de uma música do Caetano…
– Eu sei, mas é a pura e a mais cruel das verdades. Eu que o diga…
– Vamos, vamos. Estão chamando o nosso voo.
– Melhor assim. Não quero nem ver a hora da separação. Não sei se suportaria.
– Deixa de bobagem. É só um casal. Será que eles são casados?
– São. Ele deve ser casado com outra e ela está para se divorciar oficialmente de outro homem, tão banana quanto este aí.
– Ué! Como você sabe?
– Simples. É minha futura ex-mulher.
** FOTO NO BLOG: Caio Kenji