Conta-se que um bando de macacos andava alegre e festeiro pelas verdes copas das árvores daquela imensa floresta quando se deu o fato.
Ao passar perto de uma profunda gruta, um deles percebeu que a onça, sabe-se por qual descuido, caíra lá nos confins do buraco e, de lá, não conseguiria sair por mais que tentasse com saltos e mais saltos.
II.
O bando se enterneceu com a situação – “poderia ser um de nós”, sapecou um deles – e todos resolveram dar um help ao felino.
Arrancaram alguns cipós, emendaram um ao outro, apertaram os nós – e assim, com a participação de todos, com destreza e engenhosidade, conseguiram içar o bichão e colocá-lo à superfície.
Assim que terminaram o serviço, trataram de vazar do local. Eram macacos, mas não eram tolos. Sabe-se lá qual a forma de agradecimento viria da esfomeada Sra. Onça.
III.
Um deles, porém, o Simão, deu bobeira – e a pintada tratou de agarrá-lo.
“Compadre Macaco”, disse a dita-cuja. “Espero que compreenda, estou faz algum tempo sem comer, esfomeada. Por isso, peço que o amigo faça-me o favor de deixar-se comer. Não me leve a mal, não é nada pessoal, mas é a lei da selva.”
IV.
Que presepada!
O macaco rogou, instou, argumentou, chorou; mas, nada, da Sra. Onça se comover.
Eis que, no ápice do desespero, Simão lembrou-se de que tal demanda deveria ser resolvida pelo juiz de direito.
V.
Depois de alguns instantes de hesitação, a a onça aceitou o trato, dando a causa como ganha.
– É justo!
Assim, seguiram até a borda dos rios, onde aconteciam as audiências sumárias.
O macaco sempre agarrado pelo forte abraço da ‘amiga’ onça.
VI.
Entre os animais e naquela Vara Regional, o jabuti respondia pela jurisprudência. Naqueles idos, respeitava-se e se dava fé à sabedoria dos mais vividos e experimentados.
Iniciada a sessão, o macaco expôs suas razões.
O jabuti ouviu-o e no fim ordenou:
– Bata palmas.
Mesmo amarfanhado e preso, Simão aplaudiu como pôde.
Cônscio da sua imparcialidade, o jabuti nada disse.
VII.
Passou, então, a palavra ao pleiteante felino que também expôs motivos e justificativas.
Da mesma forma, o Sr. Juiz determinou:
– Bata palmas.
Epílogo:
A onça estranhou a ordem.
Mas, não teve remédio.
Soltou o macaco que logo se escafedeu do lugar e também o jabuti saltou da pedra onde estava e mergulhou nas águas turvas do rio barrento.
NOTA do Blog:
*Adaptação da fábula O Macaco Perante o Juiz de Direito, transcrito do livro Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, publicado originalmente em 1915.
Qualquer semelhança com fatos dos dias que vivemos é mera coincidência.
A propósito, leia também:
STF AUTORIZA TERCEIRIZAÇÃO IRRESTRITA
A tigrada bate palmas.
O povão que se arranje rápido, de cipó em cipó…
NOTA do Blog (2):
Atualizado em 13h26, de sábado, dia 31:
DECISÃO DO TSE BARRA CANDIDATURA DE LULA
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