É certo que aconteceria. Esperar para ver. Questão de tempo. Domingo também, antes do jogo, estava com mau pressentimento. Mas, aqui não é lugar para falar de futebol. Não posso me desviar do assunto. Se eu lhes disser que não me preparei para o momento, estarei mentindo.
Me preparei, esclareço, em parte. Assim como o Luxa fez com o time semana passada. Levou para Atibaia para melhor treinar os jogadores e afastá-los do estresse que antecede toda partida decisiva. Cá estou a tocar no assunto que quero esquecer…
Como dizia — e eu mesmo me cortei –, sempre estive meio que de alerta. Um preparo básico. Fisicamente, não. Pois, neste aspecto, nem de longe — menos ainda de perto — lembro o ágil e vigoroso zagueiro que fui e que jamais tomaria aquele tranco do tanque Adriano e rolaria pela relva como o Pierre domingo rolou. Melancolicamente. Aliás, para nós palmeirenses, a semana anda mesmo atravessada. De novo o Planeta Bola. Onde ando com a cabeça?
Me preparei parcialmente, dizia. Não que tenha passado por alguma por terapia especial. Dessas de auto-ajuda ou coisa que o valha. Apenas esperei a hora e a vez de acontecer. Porque aconteceria.
Assim esperei. Com ares de soberba que dariam inveja ao árbitro João Paulo de Oliveira, aquele tal que disse ler intenções. Ops.
Por mais que amigos e afins me tranqüilizassem:
– Veja, há sempre outro de reserva e geradores para qualquer eventualidade.
No mais íntimo do meu ser, esperava pelo acontecimento. Todos os dias. Todas as noites. Entrava no prédio com essa ameaça a assombrar os meus demônios.Assim como os encapetados, Adriano e o juiz, fizeram com o meu time do coração…
Por falar em coração, será que o meu resisitiria tamanha provação?
Hoje, lá pelo meio dia, cheguei para almoçar em casa. Veio, pois, a inexorável verdade dos fatos. No triste e desinfeliz enunciado de uma placa de não mais de 20 centímetros. A informação era seca.
EM MANUTENÇÃO
Olhei para aquele ‘mostrengo’ e me encaminhei para a porta que dá acesso ao hall de entrada do prédio onde moro. Foi há poucos minutos. Ainda ouço a voz amiga e dalentada do zelador, o Júlio.
— Seo Dotô, o senhor esqueceu que o ‘social ‘está em reforma?
Pensei:
Doutor em quê? Como assim?
As pernas pesaram, parecia que não tinha mais controle sobre o que fariam a partir da notícia. Creio que foi o quê aconteceu com o zagueiro Gustavo na jogada do segundo gol dos inimigos. Fiquei entre o trôpego e o assustado. Os olhos embaçaram. E o Júlio continuou falando:
— Já chamei os homens para o conserto. Mas estão demorando a chegar.
Lembro agora. Tentei me recompor. Achar um espaço, uma saída criativa. Mas, parece que um ‘muricy’ chamado Destino escalou um ‘zéluís’ do Acaso a fungar no meu cangote. Senhores, compreendam, não tenho mais idade para ser Valdívia.
Murchei – como aconteceu com El Mago no domingo. Pensei em reclamar do síndico que deveria ter previsto. Assim como o Luxemburgo reclama do Coronel Marinho, o tal chefe da arbitragem.
Ao contrário do mestre Luxa, entendi que esses piripaques são inócuos. Não vou lhes dizer que dei de barato. Diante da árdua tarefa, hesitei. Tão sem graça quanto aquela bandeirinha após não ver o gol de mão ou marcar aquele impedimento que nunca existiu.
Dei o jogo por encerrado. Só não terei condições de enfrentar os microfones. E aqui estou, entre o quinto e o sexto andar, arfante, a remoer aflições. No vão da escada.
Moro no 19o. andar — e, como vocês perceberam, o elevador enguiçou.
(* Leia também: No Vão da Escada, postado em 13/10/2006.)