Conto ao amigo Escova que, depois de longos anos – uns 10, 15, 20, sei lá… – voltei todo faceiro ao Cine Belas Artes, ali, em outra esquina icônica de São Paulo, a da Paulista com a Consolação.
Como resposta no WhatSaap, recebo o que imagino ser uma sonora gargalhada:
KKKKKKKKKK
Assim mesmo, em maiúscula!
Em seguida, vem a inevitável provocação:
– Não me diga que estava de All Star?
A gente só quer bem os amigos. Até os mais distantes, como é o caso do Escova que mora nos confins da França e não fala em voltar e, como paga, isso…
Só se recebe ironia e deboche.
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Durante largos anos da juventude – minha, do Escova e de outros mais da nossa geração – o Belas Artes foi referência na programação cinematográfica da cidade. Era, creio, um dos mais importantes exibidores dos principais filmes europeus, com assinatura de históricos nomes como Fellini, Bergman, Etore Scola, Pasolini, Elio Petri, Truffaut, Fassbinder, Rosselini, Leone, Visconti, Bertoluuci , entre outros tantos e tamanhos.
Também ali fui a grandes pré-estreias – especialmente quando era o lançamento de algum filme de Woody Allen.
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Lembro uma tarde de doce ócio. 25 de janeiro, talvez. Era feriado na cidade – e, sozinho, aproveitei para assistir a dois clássicos da época: o francês “A Insustentável Leveza do Ser” (direção de Philip Kaufman/1988) e “Bagda Café” (direção de Percy Adlon/1987), este com a lindíssima trilha sonora “Calling You”.
No dia seguinte, contei minha aventura aos amigos da velha redação de piso assoalhado – Escova, entre eles – e fui aplaudido em cena aberta. Ou quase isso.
Alguns lamentaram as horas modorrentas que desperdiçaram no dia anterior. Outros se queixaram da escala de plantão – mas, quase todos prometeram fazer o mesmo no fim de semana.
Não sei se fizeram. O Ismael, talvez.
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Neste fim de tarde de sábado, fui ver “Noite Mágica”, de Paolo Virzi. Com participação mais do que especial do veterano Giancarlo Giannini e grande elenco.
Trata-se de uma alegoria – um tanto ácida, eu diria – aos gloriosos momentos do cinema italiano. Faz várias citações a autores, diretores e produções famosas que, é provável, quem não for medianamente ligado àquele momento pode perder a plena compreensão dos fatos. Não perde, no entanto, o fio da meada e a chance de uma gostosa risada.
Bem, sou suspeito para falar. Adoro filmes italianos. Adoro a Itália. Só as imagens do amanhecer em Roma são suficientes para me comover.
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O enredo é relativamente simples. Está ambientado em 1990 no exato instante em que Itália e Argentina disputam as semifinais da Copa em Roma.
Três jovens aspirantes a cineastas estão na cidade para receber um prêmio ‘de melhor roteiro’ e são inseridos – digamos, abruptamente – aos bastidores do fantástico mundo em que sonham fazer parte.
Paro por aqui.
É um bom filme, assino e dou fé.
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Escova me pergunta se “Noite Mágica” já passou na França?
É minha vez de retribuir o KKKKKKK.
Como vou saber?
A produção é de 2018, amigo.
Sei que o Bar Riviera, de memoráveis noitadas, lembra? Em frente, ao Belas Artes, do outro lado da avenida Consolação, lembra? Pois é. Também voltou a funcionar.
Mas, lá, eu não fui e não vou.
Os tempos são outros, amigo.
De nostálgico, basta o filme.
Aquelas eram as nossas mágicas madrugadas – e não voltam mais.
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VERONICA PATRICIA ARAVENA CORTES
20, agosto, 2019Saudades dos filmes italianos… Desse povo falando alto, gesticulando, fazendo caretas