Foi no mais antigo dos anos…
O pai me acordou aos berros. De um jeito carinhoso que eu não conhecia.
— Seu nome apareceu no jornal. Seu nome…
O velho me despertava todos os dias. Com voz de sargentão que nunca foi. Mas, de uma forma que deixasse bem claro ao dorminhoco que já era hora de enfrentar a vida.
Só aos domingos pulava da cama antes de todos lá em casa. Jogava num time da colônia espanhola no Centro de São Paulo e, por nada neste mundo, eu me atrasaria para defender as gloriosas cores do Casa de Galícia – Hoggar Espanhol. A equipe não era lá essas coisas – mas, as camisas eram um show à parte. Vermelhas encarnadas e, pasmem vocês, de abotoar. Um chiquê…
Mas, voltemos àquela manhã de um fevereiro qualquer no mais antigo dos anos.
Como disse, o pai me pareceu enternecido ao brandir o jornal no ar e só fazia repetir:
— Seu nome… Seu nome apareceu no jornal.
Contrariado, demorei a despertar. Andava no desvio — e não compreendia o porquê tanto escândalo. Olhos entreabertos divisaram a mãe chorosa diante da gravura do Coração de Jesus na sala, com uma vela na mão. Rezava. Logo cedo. Não entendi. Só em caso de chuvas e trovoadas a mãe apelava para o santo àquela hora da manhã. (Ela morria de medo de enchentes.)
O que teria acontecido, meu Deus?
Nome no jornal? Celebridade, nunca fui. Nem esportiva, nem nada. Nas páginas policiais? Será? Sempre fui da paz. Além de um ou outro pontapé no futebol, sempre fui sussa. E agora essa: meu nome no jornal. Melhor enfrentar logo, seja o que for.
O pai não me abraçou porque o velho calabrês não era dado a esses gestos de carinho. Mas, os olhos brilhavam de orgulho, como nunca esqueci.
— Seu nome no jornal… Você entrou na faculdade, filho. Isso é que é felicidade.
Logo voltou à sisudez que era sua marca registrada – e, desconfio hoje, seu charme peninsular.
— Levanta e vai tratar da papelada da matrícula…
Ontem, vi na TV a festa da turma que entrou na FUVEST — entre os quais, Stephannie, minha sobrinha-neta. Deu uma vontade de contar essa história a ela e a todos e lhes dizer:
— Vocês entraram na faculdade. Isso é que é felicidade…
Feleicidades a todos. Aproveitem – é só o primeiro passo de um longo e sinuoso caminho.