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Nosso amigo Snoopy (2)

A vida, naqueles idos dos 80, seguia em velocidade de cruzeiro e, à nossa maneira, tínhamos que satisfazer a lida e éramos felizes.

Não lembro quanto tempo se passou, sei que foi um tempão, e ainda resistíamos por ali, quando nos chegou a notícia e um pacote de babilaques.

Um mensageiro tão misterioso quanto ele nos visitou em uma manhã de sábado e informou que Snoopy era, na verdade, um ilustre artista plástico, de renome mundial (vendo o peixe como comprei, tá?) e ganhara o mundo sem deixar vestígio ou paradeiro. Uma praia perdida no Nordeste, uma pequena cidade no interior do Uruguai, uma aldeia na Toscana, os boatos eram muitos, mas sem comprovação.

O homem, de terno e tal, nos disse do carinho que o Snoopy sentia por nós e que sempre aparecia por ali, no boteco, para curar a profunda depressão que lhe enredara e não lhe dava trégua. Gostava do nosso amalucado e sem-compromisso jeito de levar a vida (era o que ele imaginava, ok?) e, muitas vezes, nós o inspirávamos nas obras abstratas e surreais que eram o seu forte.

Ninguém entendeu bulufas o processo de criação do Snoopy; menos ainda, o porquê em meio a tanta gente bonita ao seu redor, o cara foi nos transformar em musos.

De qualquer forma, entre uma cerveja e outra, achamos conveniente nos fazermos de educados e não negacear os tais presentes devidamente nominados e empacotados.

Na verdade, eram pequenas telas (de 16 por 12 centímetros) com as tais abstrações e algumas pequenas esculturas em cobre ou zinco (nunca soube direito).

Cada um pegou a sua lembrancinha.

A mim, coube um chaveiro excêntrico que, de resto, nunca pus em uso. Na peça principal, ele imita uma folha de árvore em cobre (ou zinco) e tem incrustado um pequeno arranjo de contas e miçangas. Uma moeda, das bem antigas, derretida completa a cena.

Sejam educados, por favor.

Não me perguntem se o pessoal gostou ou não dos presentinhos.

Da minha parte, como de hábito, serei sincero: guardei o badulaque num lugar em casa muito bem guardado.

Mas, só agora me dou conta que, tal e qual o seu autor, não sei que fim levou a obra.

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