A vida, naqueles idos dos 80, seguia em velocidade de cruzeiro e, à nossa maneira, tínhamos que satisfazer a lida e éramos felizes.
Não lembro quanto tempo se passou, sei que foi um tempão, e ainda resistíamos por ali, quando nos chegou a notícia e um pacote de babilaques.
Um mensageiro tão misterioso quanto ele nos visitou em uma manhã de sábado e informou que Snoopy era, na verdade, um ilustre artista plástico, de renome mundial (vendo o peixe como comprei, tá?) e ganhara o mundo sem deixar vestígio ou paradeiro. Uma praia perdida no Nordeste, uma pequena cidade no interior do Uruguai, uma aldeia na Toscana, os boatos eram muitos, mas sem comprovação.
O homem, de terno e tal, nos disse do carinho que o Snoopy sentia por nós e que sempre aparecia por ali, no boteco, para curar a profunda depressão que lhe enredara e não lhe dava trégua. Gostava do nosso amalucado e sem-compromisso jeito de levar a vida (era o que ele imaginava, ok?) e, muitas vezes, nós o inspirávamos nas obras abstratas e surreais que eram o seu forte.
Ninguém entendeu bulufas o processo de criação do Snoopy; menos ainda, o porquê em meio a tanta gente bonita ao seu redor, o cara foi nos transformar em musos.
De qualquer forma, entre uma cerveja e outra, achamos conveniente nos fazermos de educados e não negacear os tais presentes devidamente nominados e empacotados.
Na verdade, eram pequenas telas (de 16 por 12 centímetros) com as tais abstrações e algumas pequenas esculturas em cobre ou zinco (nunca soube direito).
Cada um pegou a sua lembrancinha.
A mim, coube um chaveiro excêntrico que, de resto, nunca pus em uso. Na peça principal, ele imita uma folha de árvore em cobre (ou zinco) e tem incrustado um pequeno arranjo de contas e miçangas. Uma moeda, das bem antigas, derretida completa a cena.
Sejam educados, por favor.
Não me perguntem se o pessoal gostou ou não dos presentinhos.
Da minha parte, como de hábito, serei sincero: guardei o badulaque num lugar em casa muito bem guardado.
Mas, só agora me dou conta que, tal e qual o seu autor, não sei que fim levou a obra.