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Notícias de mim

por Vanessa Schultz

Caminho por caminhos cobertos de folhas caídas, amarelas e apodrecidas. Piso nelas para senti-las e ouvi-las. Olho para cima e vejo outras caindo. Corro para uma delas pegar e usá-la como marcador de livro. Nas manhãs de sol, pedalo pelo caminho silencioso que me leva ao supermercado ou até o estúdio de ioga.
Às vezes cesso a caminhada para olhar os patos que se banham de manhã no córrego ou os esquilos à procura de comida para ser estocada no inverno.

Na maioria dessas caminhadas, tenho em uma das mãos outras mãos entrelaçadas. Entre nós, silêncio confortável. Nas pedaladas, estou sempre sozinha. Momento meu. Olho à frente e vejo o caminho em linha reta, fechos de luz batalhando para passar entre as folhas. De repente, freio para dar passagem a mais um esquilo, que corre para encontrar o almoço suculento.

O vento encontra caminhos por entre minhas roupas. É apenas um recado: o inverno ainda não chegou.

O trecho acima foi escrito duas semanas atrás. Muitas emoções, sentimentos e acontecimentos me bloqueiam. Tenho sentimentos, mas não tenho as palavras.

Quero lhe dar notícias e descrever tudo o que vejo: a simplicidade do dia-a-dia, as pessoas observadas nas ruas. Gostaria que as palavras fossem os meus olhos ou o meu olhar fosse a palavra.

O inverno já chegou. Há duas semanas, Tábata, minha bicicleta, está estacionada na escada lá em baixo. Minhas finas mãos e pernas ainda não se acostumaram com o frio. Enquanto isso, Tábata está abandonada.

Três semanas atrás, fui para as montanhas altas (Highlands) ver as últimas folhas das árvores cederem ao frio. Amarelas, marrons, vermelhas. Estradas entre as montanhas, quase peladas, rodeadas por lagos naturais. A Escócia é linda, mas o chacoalhar do ônibus me dá sono! Ai que vergonha dizer: deixei de admirar paisagens maravilhosas porque não pude controlar o fechar de meus olhos…

Viajei de cidade a cidade, dormi em diferentes camas, não escalei a montanha mais alta do Reino Unido (Ben Nevis) por causa da chuva incessante, comi mariscos, e amei…

Em uma cidadezinha chamada Oban, me hospedei em uma pousada de um senhor de 80 anos. Jeremy, o nome dele. Já viajou muito. Pelo mundo afora. Sempre compra quadros de artistas locais e enfeita as paredes com eles. Não pude dormir direito, certamente por causa do quadro do gato. Mas, para mim, a casa era mal-assombrada. Ao mencionar isso ao Jeremy, ele não pareceu surpreso, mas afirmou: o gato era o culpado.

Luzes de Natal enfeitam as árvores da rua principal e ontem fiquei abismada de ver a quantidade de pessoas pelas ruas carregando sacolas de plástico. Estar longe da família me faz pensar que o Natal não significa muito. Por isso, não partilho a alegria de comprar presentes.

Tenho estudado bastante, minhas provas estão quase chegando. A história da escola: cheguei aqui e resolvi estudar sozinha, como fiz para as outras provas.

Pedi para Manu ir até a escola para tentar reembolsar a entrada, paga quando
ainda estava no Brasil. Quando ele chegou lá, não existia mais escola naquele endereço. Não fomos informados sobre a mudança e, até hoje, ainda não conseguimos localizá-los!

Minha prova acontece em dois dias. Ontem à noite, precisava de ar. Deixei minha cama aquecida, coloquei chinelo com meia, peguei minha jaqueta, e desci para o jardim. Sentei em um balanço. Balancei. Olhei as estrelas. O vento me chacoalhava para os lados enquanto eu tentava balançar de trás para frente.

Minha idéia era sentir frio, correr para a cama, e finalmente conseguir dormir. Deu certo, mas acordei resfriada! Então estou de molho…

São 16:23 pm e o céu já escurece. Almocei tarde. Sem forças para fazer mais nada, voltei para a cama, com a idéia de cochilar e ficar boa para sábado.

Lembrei-me de minha ausência, minha vontade de comunicar e a impossibilidade de fazê-lo. Resolvi tentar.

Volto para este texto mais uma vez. Espero enviá-lo hoje.