Tenho uma amiga chilena.
Ela mora em São Paulo; os pais e familiares moram no Chile.
Os pais, em Chain. Os demais na região de Concepcion. Alguns, na própria cidade que foi a mais afetada pela catástrofe.
Ela está com o semblante triste, mas pareceu-me tranqüila.
Diz que o povo chileno é forte – e saberá dar a volta por cima.
Nessas horas, vale a solidariedade. As pessoas se unem.
Ela soube do terremoto às 3 da madrugada de domingo. Foi o próprio pai que ligou para dar a notícia que todos por ali estavam bem. A mãe pegou o telefone para lhe dizer que as paredes tremiam como uma gelatina e, dentro da casa, nada ficou em seu lugar.
(Não deve ser nada agradável sentir-se dentro de uma gelatina.)
Mas, o predinho de quatro andares onde moram resistiu bem, mesmo estando na região dos tremores.
A cidade foi arrasada em 1939 também por um terremoto. Foi reconstruída, então, em bases mais sólidas, mais parrudas. Exatamente para resistir a eventuais futuros abalos.
Uma curiosidade.
As construções mais recentes foram as que mais sofreram. Talvez porque a lembrança da tragédia fosse distante, relevaram-se alguns cuidados. E deu no que deu.
“Mas, todos estamos juntos na reconstrução da cidade e do País”, disse-lhe a mãe em outro telefonema que a deixou emocionada.
A mãe, sempre aparentemente tão frágil, mostra-se agora como uma guerreira
“Estar vivo é mesmo um milagre.”
Percebi que minha amiga não tocou voluntariamente nos pontos tristes da catástrofe – o número de mortos, os saques, o tsunami. Preferiu ressaltar a força e a fé de um povo que, isolado pelos Andes, habituou-se a só contar consigo mesmo para renascer a cada nova manhã, independente dos humores da natureza.
“Bola pra frente”, como dizem os brasileiros.
***FOTO NO BLOG: Jô Rabelo