Meu amigo Escova deu notícias. Por carta, “que é mais a nossa cara” (a minha e a dele). Desde a tragicomédia de 17 de abril de 2015 e tudo o mais que se sucedeu, o figura desacreditou do País e se auto impôs um exílio em plagas distantes. Europa, para ser mais preciso.
Tinha uns trocados guardados (o malandro sempre escondeu o jogo), uma aposentadoria merreca e, mesmo assim, me disse ele, desiludido com as coisas do Brasil, deu de fazer um mochilão ao embicar nos 70.
Levou a Sra. Escova, e desapareceu do nosso Blog.
Confesso que houve leitores que, vez ou outra, reclamaram a ausência do amigo e suas aventuras e considerações, invariavelmente debochadas.
A carta é extensa – e ele pediu que não a publique na íntegra.
Coisas do Escova.
Então vamos por partes.
Abaixo, os pontos principais:
1 –
Obviamente o texto fala do que ele definiu como ‘a saudade dentro da saudade’.
Saudade dos tempos idos “quando, na flor da idade, fazíamos e acontecíamos” na velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor. “Tempos de reportagens, agitos, sonhos e inesquecíveis amigos que se encantaram. ”
Ele não disse na carta, mas eu registro aqui. Nesse tempo, Escova era conhecido como o “Dom Juan das Quebradas do Sacomã”. Andava soltinho, soltinho…
Dentro da citada saudade, o amigo citou outra saudade, esta mais recente. Nossas andanças pelo transformado Sacomã a lembrar os tempos idos, a refletir sobre os rumos do País e do mundo, as discussões sobre futebol que tanto amamos, esses papos de boteco que nunca dão em nada, mas é gostoso que só. Nessas conversas nas manhãs de sábado, quase sempre éramos acompanhados por outro amigo, o Poeta.
O Poeta nunca pertenceu ao time da redação, mas é como se fosse…
2 –
Outro ponto que Escova deixou claro na missiva: ele não tem planos de voltar tão cedo. Sente uma falta danada das coisas boas do Brasil – praias, sol, carnaval, futebol, churrasco, cerverja gelada, os amigos, as tontarias mil – mas, vai ficando por lá. “Em algum ponto, entre o interior da França e a Bélgica”, onde moram, em cidades distintas, as filhas crescidas, casadas e com filhos pequenos.
Deduzo, por conta e risco, que o Escova está adorando ser chamado de grand-père. Ou seja, avô em francês.
“As netinhas são lindas” – diz ele, na carta.
3 –
Por fim, ele alerta pra eu me cuidar “que a idade chega para todos”. Que eu não preciso lhe responder por carta porque está sempre “pra lá e pra cá, com a patroinha, sem endereço fixo”. Prometeu acompanhar, sempre que puder, “as bobagens” que eu escrevo. E que abre mão de ser o ombudsman do Blog, “pois essas coisas à distância não funcionam”.
Reafirma a saudade de nossa parceria.
E conclui, bem ao seu modo:
“Recomendações ao Poeta. Se puder venham me visitar um dia".
Cadê o endereço, Escova?
Nem no envelope da carta, o tratante preencheu o espaço do remetente.