A última notícia que tenho do amigo Escova é que o tal anda pelo Chile – e promete ir para o Uruguai em breve.
– Quem sabe eu não encontro o Belchior?
Enviei um email para o amigo faz algumas semanas com o convite para que o Escova escrevesse a orelha do meu provável novo livro (O Natal, o menino e o sonho) e, só ontem, recebi a resposta do traste. Pior: o cara desconversou, sequer tocou no assunto. Não disse sim, não disse não.
Quando estava no Brasil, Escova e eu nos encontrávamos quase todas as manhãs de sábado ali, no cantão do Sacomã, para reviver os bons tempos da velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor.
Era a forma que tínhamos para reviver os nossos, digamos, melhores momentos e, na esteira dessas lembranças, ainda reverenciar os amigos que se foram ou por contar e risco, como ele próprio fez recentemente, caíram no mundo sem maiores explicações.
Ando como o meu embornal repleto de notícias deste Brasilzão de meu Deus e não tenho com quem comentar. Hoje, qualquer conversinha que envolva política, religião, futebol e assuntos congêneres descamba para um bate-boca, um quebra-pau sem limites, sem hora para acabar.
Com o Escova, pelo tempo em que convivemos juntos, pela nossa trajetória de repórteres vira-latas, por sermos contemporâneos, a conversa era mais solta, mais larga e divertida.
De qualquer forma, e meio que telepaticamente, passo aos amáveis leitores o que imagino seriam os comentários que o Escova faria, se aqui estivesse, diante das notícias do dia:
Sobre o ministro Gedel e o prédio no paradisíaco cenário da Bahia de Todos os Santos: “Malandro campanhia, aperta e sai correndo. Só ele e a família querem se dar bem”.
Sobre a notícia de que os jovens da era digital não sabem distinguir entre o que é notícia real e o que é invenção: “E precisa?”
Desconfio que aqui ele citaria o filósofo Tim Maia:
– Tudo é tudo. E nada é nada.
Sobre o veto de Chico Buarque ao uso de sua canção “Roda Viva” como trilha sonora do programa homônimo, na TV Cultura: “Demorou!”
– Agora é uma roda de parcas, como diria o Romário.
Sobre o passa-moleque que a Câmara Federal prepara para anistiar o Caixa 2 dos nossos ilustres parlamentares: “Este País não tem jeito, não”.
– Mas, não vamos desistir dele, não…