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Notícias do Planalto

Aviso logo: o título da coluna nada tem a ver com o livro do jornalista Mário Sérgio Conti, “Notícias do Planalto – A Imprensa e Fernando Collor”. Menos ainda com o Planalto brasiliense, onde a chapa ferve e o circo midiático espalha lonas e holofotes.

Fico mesmo com o Planalto, bairro operário de São Bernardo do Campo, onde meus pais moraram por longos e longos anos, desde os anos 70, e onde não dou as caras desde que Dona Yolanda, minha mãe, morreu em junho passado.

II.

Não foi algo premeditado.

Bateu o impulso. Creio que natural a quem, em meio às bordoadas diárias do tocar a vida, pretende minimamente a encontrar um tantinho de paz, rever-se aqui e ali, reaprumar os passos e o caminho.

Verdade verdadeira, não sei que ‘bicho’ me deu.

Sei que a primeira parada foi na feira-livre que sai da Avenida Álvaro Guimarães e serpenteia a Rua Doutor José Oriá, passei pelo shoppinho (as lojas estavam fechadas logo cedo), me encaminhei para a padaria Tranza que está toda reformada, segui até o ponto de táxi da rua Oragnoff e ali fiquei observando a janela do apartamento em que o pai e a mãe moraram por tanto tempo.

Não há cortina atrás das janelas.

Será que ainda não mora ninguém ali?

III.

Também residi no Planalto por muitos anos – e tenho boas recordações do lugar.

Era um tempo de acreditar no sonho. Tempos plenos, intensos – de conquistas.

Tempo de fazer e, como disse, acreditar.

“Vida, minha vida, olha o que é que eu fiz”.

IV.

Ops…

Não sou tão estranho assim ao lugar.

Recebo um “bom dia” do jornaleiro amigo do meu pai. Ele me reconhece e se espanta com a brancura da minha barba.

Ele me convida para um pastel na rotisserie da Dona Olga, que faz salgadinhos de fama interplanetária. Fico tentado, agradeço, mas dispenso.

É hora de voltar para casa. Não sem antes, dar uma espiadinha na Barbearia do Milton, que agora só atende de terça a sábado. Até o velho Miltão está pedindo arreglo. Pode ser a crise?

Outra hora eu revejo o amigo.

V.

No minuto seguinte, sou abordado por dois senhores, vestidos sobriamente para uma ensolarada manhã de domingo. Roupa social, gravata. Me falam sobre algo maior, o Reino de Deus. Acenam com um livreto e me perguntam se desejo ser testemunha de Jeová.

(Agora me lembro. Há uma igreja bastante atuante por aqui.)

Tento ser educado:

– Meus amigos, não posso ser testemunha de nada. Cheguei agorinha mesmo. O que aconteceu?

VI.

Os senhores dão meia volta, desolados.

Menti para eles.

De alguma forma, eu e minhas lembranças nunca saímos daqui.

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