Respondo ao Anselmo, leitor que reencontrei ontem e, diz ele, por longos anos, acompanhou a coluna Caro Leitor que escrevi em Gazeta do Ipiranga.
Anselmo me diz que digitou meu nome no São Google, pois queria reler um velho texto sobre a campanha das Diretas Já.
Não esclareceu o real motivo.
Se foi pelo estilo que não tenho ou por alguma informação que sequer lembro de ter dado.
Também não deu tempo de perguntar.
Logo contou que encontrou o site e, na sequência, o blog e os posts diários que leu e lhe causaram uma baita estranheza.
Raros falavam de política, tema que me era prioritário, especialmente, nos anos 80 quando o País passava pelo período de redemocratização e Anselmo, ao que pude crer, andava pelo bairro onde trabalhei por 28 anos.
— Você também se cansou de tantos escândalos?
Estranhei a pergunta/conclusão.
Não soube responder de pronto.
Apelei, então, para o recurso que aprendi ao ver uma palestra de Zé Hamilton Ribeiro a estudantes de jornalismo.
A cada pergunta de algum garoto na platéia, o Repórter do Século respondia convicto:
— Um pouco sim, outro tanto não.
No meu caso, “o pouco sim” justifica-se a cada dia ao deparamos com novos escândalos, novas impunidades, novos absurdos do Poder Público – que, na essência, parecem ser sempre os mesmos.
Ficamos intimamente abalados em nossa vã esperança de dias melhores.
A vontade é chutar o balde, mandar tudo às favas.
Dar uma de Belchior e se esconder em algum lugarejo nos confins dos confins.
O “outro tanto não”, porém, entendo agora é seja exatamente a razão que me fez mudar, diria, o enquadramento dos meus textos. Escrevo cada vez menos sobre presidenciáveis, futuros governadores, parlamentares, celebridades e quetais porque, hoje entendo, não serão esses os agentes da transformação.
Hoje, meu olhar e o meu texto viralata estão voltados para o cotidiano das pessoas comuns. Das pessoas simples, sensatas e sinceras.
São raras, eu sei. Mas, existem. E quero aqui reverenciá-las.
Pois, são elas que hão de transformar o mundo.
FOTO NO BLOG: Camila Bevilacqua
