O Borga e alguns amigos juntaram o útil ao agradável. Eles curtem MPB e a vida noturna.
Mais MPB do que a vida noturna, é bom que se diga.
Resultado?
Compraram um bar onde se apresentam todos os fins de semana, no Bixiga.
Chama-se Lua Nova (acho que é esse o nome) e fica na Treze de Maio.
II.
Não conheço os amigos do Borga.
Mas, o conheço o Bixiga, tradicional bairro da boemia paulistana. Dos teatros, dos restaurantes e cantinas, dos bares, das festas de rua (a Nossa Senhora de Achiropita), dos Arcos, dos cortiços, do samba da Vai-Vai, do sotaque italianado, sempre a lembrar Adoniran Barbosa.
É, meus caros! Não é de hoje que conheço aqueles becos e ruas.
III.
Andei muito por ali, noites e lembranças memoráveis:
A encenação de Hair (com Armandos Bógus, Altair Lima e Sônia Braga aos 18 anos), no Teatro Aquarius (que depois virou Teatro Záccaro), palco também de outros pontos altos da dramaturgia brasileira. De pronto, lembro de dois: Dom Quixote de La Mancha (com Paulo Autran e Bibi Ferreira, música com letra de Chico Buarque) e Brasileiro Profissão Esperança (com Paulo Gracindo e Clara Nunes).
Inesquecíveis.
IV.
Inesquecível também o show Alucinação, no mesmo teatro, que lançou Belchior como grande intérprete daquele período turbulento, de censura e contestação:
“Eu quero que o meu canto novo,
Feito faca, corte
A carne de vocês”
(A Palo Seco)
V.
Os restaurantes, posso listá-los assim; aleatoriamente: o Roperto, o C Q’Sabe, o Posilippo (não existe mais, era dso tempo do meu pai), o Bassi, o Mexilhão, a pizzaria Esperanza, a Cantina D’Angelo, o Café Piu Piu e tem um ali na rua Santo Antônio que esqueci o nome, onde invariavelmente terminávamos as noitadas, trôpegos e felizes.
Não vou nem citar os da região da Avanhadava: Orvieto, Piolin, Giggetto, Família Mancini, Giovvano Brunno…
Aí é covardia…
Tantas e tamanhas foram as histórias, os amigos, os amores.
VI.
Acho que por isso mesmo ainda devo essa visita ao bar do Borga e seus amigos.
Vai que, a perambular por ali, eu encontre aquele rapaz cabeludo, de sonhos diversos e improváveis que um dia eu fui.
Do alto dos meus quase 60 – eu disse, quase 60 – o que poderia lhe dizer?
— Valeu, bicho!
VII.
Será que ele me entenderia?
Turrão do jeito que sempre foi, desconfio que não.
Faria tudo do jeitinho que sempre fez.
VIII.
Não seria esse o perigo.
O perigo seria ele olhar para o meu rosto, marcado pelo tempo, pelos altos e baixos da vida, e tristemente não se reconhecer em mim.
— Ta devagar, hein!, coroa.
* FOTO NO BLOG: Jô Rabelo
** Volto segunda…