E tem aquela história que o Stanislaw Ponte Preta conta na crônica “O Boateiro”…
(Lembro-me dela toda vez que vejo o nosso Presidente Tabajara, com peito de pomba e meneios, em seus discursos de convencimento de que efetivamente é um ungido dos deuses para recolocar o País no caminho do desenvolvimento e de um promissor futuro.)
Mas, deixemos de delongas, e vamos à trama de Stanislaw que data dos idos dos anos 60, quando a ditadura militar se impôs na base da truculência.
A história é mais ou menos assim…
II.
Havia um sujeito que gostava de espalhar mentiras e boatos por todo o Rio de Janeiro. Não havia dia, hora que fosse, que o Boateiro não emplacava uma lorota das mais cabeludas.
Os amigos bem o conheciam. Mesmo assim tinham lá suas dúvidas se o que ele, em tese, inventava tinha lá algum fundo de verdade.
A fama do rapazote chegou ao conhecimento de um coronel de então. Cônscio das obrigações e dos poderes que a nova situação lhe impunha, o militar resolveu dar uma lição no falastrão.
Afinal, o lema de nossa bandeira, o tal “Ordem e Progresso”, precisaria ser respeitado plenamente.
O bocudo solto na praça decididamente era um risco para a Ordem que tanto se prezava e um entrave ao Progresso pelo qual a Redentora se batia.
III.
– Vou lhe dar um susto, decidiu a autoridade.
Mandou prender o Boateiro e, em seguida, deu a sentença:
– Você será fuzilado por falar demais, mentir demais…
O homem ficou sem ação. Travou. Nisso, apareceram os soldados e o colocaram diante de um paredão, vendaram seus olhos e formaram um pelotão para a execução.
IV.
Ouviram-se os tiros.
Mas, eram de festim.
Nada aconteceu ao Boateiro que ainda assustado ouviu a voz do coronel a lhe perguntar:
– Aprendeu a lição, fanfarão? Agora, você pode ir. Mas, da próxima vez que eu souber que você inventou uma mentirinha que seja, as balas serão de verdade, ouviu?
V.
O nosso anti-herói ouviu e nada disse. Saiu rapidinho, ainda zonzo com tudo o que lhe acontecera. Entrou no primeiro bar que encontrou para tomar um copo d´’água e se ajuizar de toda situação que acabara de viver.
VI.
Não teve muito tempo, não.
Logo surgiram os amigos a lhe rodear, com mil e uma perguntas:
– O que aconteceu, cara?
E o Boateiro, na maior simplicidade, foi sincero com eles:
– O que aconteceu exatamente, eu não sei. Mas, o que posso lhes dizer, com toda a certeza, é que o Exército Nacional está sem munição.
O que você acha?