Volto do congresso do Intercom/Expocom, em Curitiba, com a convicção de que o Jornalismo precisa ser reinventado para voltar a ser o que sempre foi – ou, ao menos, o que foi por certa época e deveria continuar sendo: a expressão do pensamento social.
Foram – e são – tantas as mudanças perpetradas, especialmente com os avanços das novas tecnologias, que o Jornalista hoje me lembra aquele personagem do monólogo Auto Falante, de Pedro Cardoso. Era um cidadão que falava sozinho. Tanto conversou consigo mesmo que, em determinado dia, ele não sabia se era ele mesmo ou o cara com quem conversava.
O Jornalista hoje dialoga com tantos “eus” seja na TV, no rádio, na internet, em assessorias, nas empresas, na política, na academia, nos diversos segmentos das práticas comunicacionais que hoje nem sabe exatamente quem é. Se ele é ele mesmo ou é o apresentador do Big Brother, o comandante do CQC, o diretor da empresa, o editorialista a referenda a opinião do dono do jornal, o pesquisador de teses mirabolantes, o crítico da mídia distante do processo de produção, o todo poderoso assessor da CBF ou o blogueiro inofensivo e anárquico como eu.
Os limites e os deveres da profissão são cada vez mais tênues.
Recortei e guardei um depoimento do jornalista Gay Talese à revista Época, em julho deste ano, quando visitou o Brasil para participar da Feira Literária de Paraty.
Tem sido minha bússola para esta e outras reflexões sobre o nosso papel na sociedade:
Destaco algumas falas:
“A internet faz o trabalho de um jornalista parecer fácil.”
“Todos estão com a bunda sentada olhando para uma tela de alguns centímetros. Pensam que são jornalistas, mas estão ali, sentados, e não na rua.”
“O mundo deles está dentro de uma sala, a cabeça está numa pequena tela. Quando querem saber algo, perguntam ao Google.”
“Estão comprometidos apenas com as perguntas que fazem. Não se chocam com nada que acidentalmente os estimule a pensar, ou a imaginar.”
“Às vezes, em nossa profissão, você não precisa fazer perguntas. Basta ir às ruas e olhar as pessoas. É aí que você descobre a vida como ela realmente é vivida.”
“O bom jornalismo é feito na rua”.
“É descobrir as histórias que valem a pena ser contadas."
Foto no Blog: Camila Bevilacqua