A propósito do texto de ontem, não consegui lembrar o nome da rua em que Volpi morava. Mas, era no bairro do Cambuci. Nos arredores da igreja de Santa Anna e São Joaquim.
Quer dizer, ver o artista por lá eu nunca vi. Mas, lembro de ouvir o pai afirmar categoricamente sempre que alguém fazia expressão de espanto ao saber do bairro onde o Aldão, meu saudoso velho, nasceu, cresceu – e viveu boa parte da sua vida.
Na verdade, era só o começo da lista de celebridades conterrâneas do pai
O Delfim Netto, sabem quem?
Pois é, o ex-ministro e economista também era de lá.
Ideologicamente, o pai não combinava em nada com as idéias do homem, especialmente nos anos da ditadura. Mas, fazia questão de ressaltar que o Delfim era do pedaço.
— Estudou no Liceu Siqueira Campos, ali, na rua Lavapés.
Com ares de nobreza, prosseguia:
— Até presidente da República saiu de lá. Durou pouco, é bem verdade.Mas, foi ali que deu seus primeiros passos na política.
O velho se referia a Jânio Quadros que, ainda nos tempos de professor de português, morou na rua Sinimbu, também no Cambuci. Só que o pai, ferrenho eleitor do Doutor Adhemar de Barros, jamais pronunciava o nome do Homem da Vassoura, eleito presidente em 1960 e que renunciou em agosto de 1961.
Na Revolução de 1932, a igreja do Cambuci, no alto de uma colina, foi bombardeada pelos canhões das forças federalistas. O pai tinha 15 anos e contava que algumas famílias abandonaram as casas e fugiram. Outras se trancaram em casa – não sem antes reforçar o estoque de alimentos básicos – a espera do pior…
Que não aconteceu, felizmente…
Aliás, essa preocupação se transformou num hábito que só desapareceu no fim da vida do Aldão — e com algum custo. Lembro que, quando eu era criança, estranhava as dezenas de latas de óleo empilhadas no armário da cozinha. Havia também pacotes e pacotes de açúcar, sal, café, arroz e feijão.
O pai era divertido. Dizia que para começar uma guerra era só um do lados dar o primeiro tiro. Para terminar com a bagaça é que eram elas. Pena que o Bush e outros quetais nunca ouviram o pai falar…
Enfim…
O Aldão ainda morou no Ipiranga e depois em São Bernardo até o fim da vida. Mesmo aos 82 anos, sempre que falava do Cambuci, ele exagerava. Mas, tinha um brilho nos olhos tão bonito…