Sintra se situa nos arredores de Lisboa – e é uma agradável parada para os turistas que circulam, em número cada vez maior, por terras portuguesas.
Há um centrinho com ruas apertadas, tortuosas, com comércio local e a delícia do pastel de nata da bodega mais afamada do lugar, a Piriquita. Tem fila à porta em busca da fina especiaria.
Lá você também pode visitar o antigo prédio da Prefeitura e andar pelos arredores para conhecer as famosas Quintas, propriedades rurais onde, nos idos do tempo que se perdeu, comerciantes mais abastados, com o ir e vir das caravelas, se refugiavam ao lado de amigos para brindar a vida e as venturas de viver num período em que não havia nem internet, nem telefone celular.
“kkkkkkkkkkk”
II.
Ouço a piada infame quando me vejo em meio de um grupo de brasileiros (do Rio Grande do Norte, me avisa um deles) e sorrio tentando ser simpático.
Faz algum sentido, respondo no exato momento em que o senhor me mostra o visor do celular, com o que suponho seja sua página no facebook.
A gargalhada é por conta e risco do autor da anedota.
III.
Não acompanho a turma na visita ao interior do prédio. Prefiro seguir com outro bando para o tal Castelo dos Mouros. Acho a proposta bem interessante,
Na van que nos leva ao destino, o motorista-guia fala dos povos que ali viveram ao longo dos séculos – gregos, romanos, celtas, mouros, entre outros. Trata-se de uma fortaleza no cume de uma enorme rocha que permite uma visão extraordinária das planícies que cercam a Vila de Sintra.
Em visitas anteriores a Portugal, estive em outras dessas construções em ruínas. Duas delas me lembro bem: o Castelo dos Templários em Tomar e o de São Jorge em Lisboa. Na verdade, não há muito o que se ver nesses lugares a não ser muralhas sinuosas, guaritas dos sentinelas e alguns salões sombrios.
Tem-se, porém, a estranha sensação de que invadimos o túnel do tempo e de que não somos mais que “uma piada de Deus ou um capricho do sol” (salve Moska!).
IV.
A Fortaleza dos Mouros não é diferente.
Percorro a rota dos guardiões do reino em silêncio. Faço o contorno das muralhas, com a certeza de que a História passou por ali e ainda guarda seus mistérios.
Os celtas chamavam a Lua de Cynthia. Por isso, deram esse nome ao lugar quando ali estavam. Encantaram-se com a visão de uma lua cheia, provavelmente. Os mouros, quando ali chegaram, séculos depois, não conseguiam pronunciar corretamente o nome. Passaram então a chamá-lo de Chintra. Assim com o correr dos anos chegamos a Sintra.
V.
Torci para que surgisse alguma princesa moura nas explicações do guia, como inspiração para tantas lutas e conquistas.
Não apareceu.
Então, como um highlander inofensivo e desenxabido, volto à van com a certeza de que ele (o guia) não sabe os segredos que aquelas muralhas encerram.
Era linda, de tez cálida, cabelos longos e encaracolados. Tinha o olhar de calmaria, e esperança. Por ela, o vento ainda se faz canção. Dizem até que, em noite de lua plena, é possível vê-la, com alvas vestes, a caminhar sobre o rústico chão de pedras das muralhas…
VI.
Importante: a princesa não se revela a qualquer um. Só os sonhadores e os loucos conseguem vê-la. É um dom.