Foto: centro de Bananal/Arquivo Pessoal
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De São José do Barreiro a Bananal leva uns bons 50 minutos de carro pela rodovia dos Tropeiros. Uma viagem tranquila, com pouco movimento na estrada e as belas paisagens da Serra da Bocaina para se apreciar.
Digamos que tenho um apronto cartorial por lá.
Boa oportunidade para rever a cidade onde estive há alguns tantos anos.
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Bananal é a última cidade paulista do Vale do Paraíba e faz divisa com o Rio de Janeiro.
Viveu o auge com a introdução da cultura do café no Brasil ali por meados do século 19.
Era o centro econômico de toda essa região, recheada de pequenas cidades. Concentrava um número razoável de grandes fazendas coloniais. Local para onde convergiam os diversos interesses políticos, econômicos e sociais de então.
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Há uns 20 anos, quando fiz uma grande reportagem para o Jornal da Tarde sobre a Serra da Bocaina, um professor que entrevistei me disse que todo o poderio desandou com o fim do Império e, sobretudo, com a abolição da escravidão no Brasil.
O café migrou para outras áreas – centro do estado de São Paulo, interior de Minas e cidades do Paraná – e a exuberância que a cidade exibia não resistiu aos novos tempos.
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Um tanto da história de Bananal, na verdade, repete a cronologia dos fatos de outras cidades da região – Cachoeira Paulista, Queluz, Areias, São José do Barreiro e Arapeí.
Em todas, é comum se ouvir relatos de fazendas coloniais – que hoje sobrevivem da cultura leiteira e também do ecoturismo – onde D.Pedro I pernoitou em suas viagens entre o Rio e Santos.
Acreditei, desconfiando.
Gosto de ouvir essas historietas que a oralidade perpetua.
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Desta feita, por absoluto acaso, soube de outra.
Não sabia nada sobre Zé Nego, um caboclo protetor dos bons, dos justos e dos caridosos.
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Conto-lhes o que aconteceu.
Estava perambulando pela centrinho da cidade – e me chamou atenção um belo exemplar de chapéu exposto na vitrine de uma loja.
Estava na cabeça do que julguei ser um manequim de cera.
Entrei no estabelecimento e, para espanto do lojista, perguntei o preço do adorno.
Estava interessado em comprá-lo para proteger meu cucuruco da chuva e do sol.
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“Que que é isso, seu moço! Não vendo, não” – me disse o rapazote, com olhar de indignação.
“Deixar o Zé Nego sem chapéu é um desrespeito. Onde já se viu? Sem a proteção dele a vida da gente desanda. Cruz credo”.
Fiquei um tanto desconfiado.
Olhei para o atendente. Depois olhei, mais demoradamente, para o sorridente manequim.
Entendi que aquele chapéu tinha dono.
Resolvi desistir da aquisição.
Eu, hein!
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Fiz o que tinha de fazer por ali.
Voltei rapidinho para Barreiro.
Com essas crenças não se brinca.
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O que você acha?