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O delegado do terno roxo

Sol a pino.Primeira saída de um delegado novato. Direto para Heliópolis.

– Doutor, não faz isso, não.

– Isso o quê?

– Deixa que a gente vai. Volta lá para o DP, a gente segura.

– Estudei pra caramba pra chegar aqui e ficar atrás de uma mesa…

(Silêncio)

– Vou nessa com vocês.

– Tá certo, então, chefia.

O Doutor Fernando sempre foi um homem vaidoso, e vaidade nos anos 80 significava roupas coloridas e looks espalhafatosos. Por isso, em sua primeira saída, entrou na comunidade com um terno roxo que, com a ajuda do sol, ficou quase lilás brilhante.

Hoje, ele próprio faz o meá-culpa:

– Meu terno parecia o do Coringa do Batman. Não lembro de ter usado roxo depois daquele dia, nem em roupas de festa.

Quando chegou ao local da ação, percebeu que todos à sua volta estavam usando roupas discretas. E justo ele, o delegado, no meio de uma favela, mais parecia um alvo.

Não teve dúvidas. Entrou na viatura e resignou-se em passar calor lá mesmo.

– Se fosse um daqueles jogos de tiro ao pato, certamente seria o primeiro a ser derrubado.

*Trecho do livrorreportagem “Um Plantão, o Doutor, as Papis, os Peritos e Outros Tiras”, de autoria de Lucas Biffi e Vinícius Barreiras que foi apresentado ontem à banca de avaliadores como trabalho de conclusão do curso de jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo. Parabéns aos autores pelo trabalho realizado, e pela aprovação alcançada. Sucesso na profissão.

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