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O desabafo do pingüim

"Suporta-se com muita paciência a dor no fígado alheio" (Machado de Assis)

01. Mudou ou não mudou? Lembra do anúncio da cerveja que até recentemente era veiculado no horário nobre da TV? Pois é. Na manhã desta quinta, a pergunta era inevitável — e as manchetes dos jornais também. Jader Barbalho e Aécio Neves eram os novos homens fortes do Congresso Nacional. Barbalho fez-se presidente do Senado ao derrotar as articulações — e o desespero — do arqüinimingo Antônio Carlos Magalhães. Neves venceu, com ampla margem, Inocêncio de Oliveira e assumiu a presidência da Câmara Federal. PMDB e PSDB ocupam, respectivamente, o espaço que antes pertencia ao PFL, legenda que saiu chamuscada dessa ruidosa contenda…

02. A mídia em geral abriu largos espaços para os bastidores da disputa. Foi generosa e raramente crítica na cobertura de todo o processo. Ainda agora solta, aqui e ali, palpites e prognósticos sobre o iminente fim do mito ACM, a ascenção do ministro José Serra ao posto de mais cotado entre os presidenciáveis do PSDB, os planos de Aecinho e cousa e lousa e maripousa…

03. Às vezes (ou quase sempre), nós, jornalistas, falamos demais, escrevemos demais na ânsia de antecipar fatos e notícias. Mesmo que a intenção seja melhor esclarecer a opinião pública, atropelamos o bom senso por obra e graça da correria do fechamento e sequer deixamos maturar a informação para divulgá-la com contornos de realidade…

04. Foi exatamente o que aconteceu neste episódio. Desde dezembro, talvez antes até, a mídia dedicou generosa atenção com a eleição para as mesas do Congresso e suas possíveis conseqüências. Não deixou claro, porém, que fosse qual fosse o resultado nada mudaria. PFL, PSDB, PMDB e afins continuarão unidos como alicerces do tucanato que, como todos que chegam ao Poder e tomam gosto, pretende se perpetuar nele…

05. Não sei se tudo o que se leu, ouviu e viu sobre a pinimba entre ACM e Jader serviu para esclarecer o grande público. Não sei também se o brasileiro comum levou a sério o chumbo trocado de denúncias entre ambos. Percebo entre os leitores o consenso que transcende o noticiário: são farinhas do mesmo saco, como de resto o são a maior parte dos políticos e govenantes nativos. Invariavelmente legislam e governam voltados para o próprio umbigo…

06. Imagino que, na maioria das vezes, o leitor/espectador diante de tanto diz-que-diz das notícias faz como um dos pingüins daquele mesmo anúncio. Em meio a discussão se a cerveja mudou ou não, ele fica, digamos, saturado. Abandona o grupo e, em desabalada carreira, desabafa: Destesto confusão.

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