por Ricardo Kotscho
* Pronunciamento feito em 6 de março de 2003 aos formandos de jornalismo da Faculdade de Jornalismo e Relações Públicas da Universidade Metodista
Caros formandos,
parentes e amigos
É sempre uma honra e uma alegria poder participar da formatura de novos colegas jornalistas.
Já perdi a conta de quantas festas como esta pude participar ao longo da vida, como paraninfo ou patrono. Só aqui na Metodista acho que já foram três vezes. Só lamento que até hoje eu mesmo não tenha me formado e dado esta alegria para a minha mãe.
Sou do tempo em que o jornalista não precisava de diploma e vocês são do tempo em que uma juíza resolveu por livre e espontânea vontade dela acabar com o diploma.
Pena que a gente não possa fazer a mesma coisa e acabar com o diploma de advogados. E de médicos e de engenheiros e de todas as outras profissões.
O Jornalismo é uma profissão tão vital para a vida de um País e de tal risco para a sociedade que não pode ser tratado como um ofício de segunda categoria, que pode ser exercido por qualquer um.
Está aí um bom motivo para vocês já começarem na profissão fazendo o que mais um jornalista deve fazer: brigar pelos seus direitos e pelos direitos dos outros.
Passei a vida toda brigando contra o arbítrio, a impunidade, os donos da verdade, os latifundiários do poder. Não me arrependo. É por isso que estou aqui hoje e posso olhar na cara de cada um de vocês e dizer: vale a pena ser jornalista, apesar de tudo.
Mas, hoje é dia de festa, não é hora de falar de coisa séria. Está todo mundo querendo comemorar e não ficar ouvindo discurso.
Por isso, e também porque tenho pouco tempo para preparar este improviso antes de pegar o avião, prometo falar pouco.
A maioria de vocês já abe o que penso da vida e da profissão.
Quero aproveitar esta oportunidade para falar da minha imensa fé no futuro do Brasil e no futuro da profissão.
Quanto mais o País avança no rumo da democracia plena, em que a cidadania seja respeitada e as oportunidades sejam realmente iguais para todos, mais importante se torna o papel do jornalista, ao mesmo tempo testemunha e agente da transformação.
Esta não é uma profissão para quem tem medo de luta e desanima diante das primeiras dificuldades.
Para mim, quase 40 anos de carreira, sempre foi tudo muito difícil, e continua sendo, agora que estou iniciando uma nova atividade, trabalhando para o Governo Federal.
Todo dia, no café da manhã do hotel onde estamos acampados em Brasília, costumo brincar com os colegas: já estamos há tantos dias no governo, batemos mais um recorde de permanência no poder. Hoje, completamos 72 dias, e parece uma eternidade.
Na vida de jornalista, a gente tem que estar preparado para tudo, até para ser governo, embora o Millor Fernandes diga, com razão, que jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados.
É outra coisa, é outro mundo, mas a responsabilidade de ser secretário de Imprensa da |Presidência da República não é maior nem menor do que escrever uma reportagem para o Diário do Grande ABC ou para o New York Times.
Não foi isso que planejei para a minha vida. Aliás, nunca deu tempo de planejar nada. Se pudesse, viveria o tempo que me falta trabalhando só como repórter, mas jamais me perdoaria se fugisse a este compromisso, que é o resultado das lutas de várias gerações.
Digo isto só para mostrar a vocês que nossa carreira não importam a função, o cargo, o veículo, o lado do balcão em que nos encontramos a cada momento. Mais importante, é o sentido que damos ao nosso trabalho, o objetivo maior que temos no nosso ofício – seja qual for o crachá que usamos no momento.
Mais do que qualquer outro tempo, o jornalista tem que ser multimídia de verdade. Mais do que isso, tem que ser multifuncional, quer dizer, estar preparado para exercer qualquer função em qualquer atividade ligada à comunicação.
Não tem mídia ou função melhor do que a outra, desde que se exerça o ofício com ética, paixão e compromisso.
Por isso, renovo minhas esperanças e minha fé no futuro da nossa profissão.
Ao prestar minha homenagem a vocês, lembro-me por um instante das dificuldades do início da carreira.
Já naquela época, meados dos anos 60, havia os profetas do apocalipse que pregavam o fim dos tempos, o fim da reportagem, o fim dos sonhos.
A cada novo desafio, no entanto, eu parecia um de vocês, como se estivesse começando de novo, o que me faz ser chamado por alguns colegas de “dinossauro romântico” e “eterno foca”.
Sem problemas. Se a gente faz o que gosta e acredita no que faz os outros podem falar o que quiserem – nada será capaz de nos tirar do caminho.
Vejam o exemplo de um velho amigo, hoje presidente Lula. Foram as porradas que tomou e as derrotas que sofreu as grandes motivações que o levaram a vitória histórica em 27 de outubro, contrariando todas as previsões dos barões da mídia e seus colunistas amestrados.
Parabéns, jovens, pela profissão que escolheram, pelo tempo e pelo lugar em vão exercê-la. É muito bom ser jornalista num pai chamado Brasil que derrotou o medo e voltou a acreditar nele mesmo.
Confio em vocês! Coragem e boa sorte!