Encontro o amigo Poeta na festa de casamento da minha sobrinha Luciana e o ‘sortudo’ Mauro.
Ele (o Poeta, não o noivo que estava mais entretido em deliciar-se em confraternizar-se com a noiva e os convivas) quer me falar de minhas recentes postagens no blog.
As duas últimas, especialmente.
– Merecem alguns reparos – ele me diz.
II.
Finjo lhe dar atenção – mas, estou mais atento no garçon com a garrafa de pró-seco do que propriamente ter uma DR sobre o blog naqueles inexatos espaço e local.
O amigo me garante que é um dos meus quatro ou cinco ou seis fiéis leitores.
São tantos que até perco a conta.
A propósito dessa tonitroante audiência, ele, todo simpático, garante-me que são bem mais.
— Quer dizer, talvez. Não sei… De qualquer forma, não mercadologicamente correto você ficar, dia sim, outro não, lembrando que a repercussão do blog não é lá, assim, quer dizer, nenhuma brastemp.
III.
“Não sei se me faço entender”, ele prossegue, sem notar que agora minha atenção está na pista de dança, onde a alegria impera e os mais descolados se contorcem, sacodem, ensaiam requebros ao som dos hits do momento – do sertanejo ao bate-estaca, sem esquecer o axé, o pagode e, acreditem, um ou outro funk.
Não sou do ramo dos volteios e devolteios, infelizmente. Mas, admiro (até com uma pontinha de inveja) a espontaneidade e a entrega de quem sabe e gosta bailar. Cair na dança deve mesmo ser uma delícia.
Contento-me em apreciá-los. Em silêncio. Como um jurado da Dança dos Famosos.
IV.
Só que o Poeta insiste na conversa.
E eu estou quase a presenteá-lo com uma nota zero pela falta de ‘simancol’.
Contenho-me, no entanto. O Poeta é um bom amigo.
V.
Sinto-me refém da situação.
Admito ouví-lo.
O problema é que, de copo na mão, olhos no gingado e na alegria da moçada, ouvidos tomados pela fúria do som, não consigo captar sequer uma palavra de tudo o que ele quer me dizer – e, aliás, indiferente e discursivo, continua dizendo.
No exato momento em que me dou conta do inusitado da situação, a música cessa para exibição do ‘arquivo confidencial’ dos noivos.
O Poeta aproveita para tascar a hameletiana questão:
– Tenho ou não tenho razão?
VI.
Sem ter o que responder, lanço mão de um improviso baseado na fina inspiração do grande Stanislaw Ponte Preta, cronista e escritor que tenho lido com muito interesse:
– Melhor deixar o dito pelo não dito, ok? Pois, os ditos que você me disse funcionassem é certo que outros ditos que você não disse também poderiam ser de grande valia. Mas, compreendo que há ditos que funcionam em parte e há outros que mesmo não ditos ou ditos assim peremptoriamente tanto podem funcionar como podem falhar.
Diante da perplexidade do meu interlocutor, não tive dúvidas em fechar questão:
– Em resumo, tudo leva à confirmação daquele outro dito – e sempre redito: não há regra sem exceção.
VII.
Não sei se magoei o colega.
Não mais o encontrei até o fim da festa.
E tenho dito…