Lembro-me do Romeu toda vez que vejo o personagem Tonico Bastos na novela Gabriela.
Não que eles se pareçam fisicamente, nada disso.
Eles se parecem nos trejeitos e na inveterada vocação para a caça ao mulherio que estiver ao redor.
Ambos eram (são) casados, e pródigos em desculpas esfarrapadas para escapar da marcação e dos ‘caprichos’ das esposas.
Falo assim por falar. Pois, há alguns muitos anos não vejo o Romeu.
Nem sei que o fim o amigo levou…
Romeu foi o primeiro repórter-fotográfico com quem trabalhei.
Cheguei à velha redação de piso assoalhado – e lá estava ele, em pleno xaveco.
A repórter tentava batucar algumas linhas na Olivetti verde-oliva enquanto o desacanhado Romeu não parava de falar sobre o nobre sentimento “que lhe invadia o coração”.
Desconfio que foi uma das cantadas mais fubás que já presenciei.
Mas, o Romeu lá, com seu porte de jogador de rúgbi após a chuva, engatando uma frase atrás da outra…
O AC, que era o editor, o chamou, fez as apresentações – e nos mandou para uma reportagem nas imediações da Vila das Mercês.
Parte de uma rua descambara – e os moradores, alarmados, queriam fazer a denúncia do caos que enfrentavam.
Romeu estancou o sorriso na hora.
— Mas, quem cobre a região não é a Claudinha (a repórter que ele estava cantando)? A gente estava até falando sobre a pauta, não é, Claudinha?
Ela nem lhe respondeu. Redigindo estava, redigindo ficou.
AC não deixou que o papo se esticasse.
— Vão logo que o carro da reportagem (vulgarmente conhecido como Lixão) já está esperando por vocês.
Fomos e voltamos em um silêncio sepulcral.
Em determinado momento, Romeu pediu que o Seo Elizeu (o motorista) parasse por um instante que ele iria até a confeitaria.Voltou com um pacote na mão, e não fez segredo:
— É um presente para Claudinha.
De volta à redação, fui para o meu canto preparar o texto.
Indiferente aos prazos de fechamento, o fotógrafo foi fazer a corte à sua amada.
Entregou o presente, e foi todo feliz para o laboratório revelar as fotos.
Assim que saiu da sala, ouvimos a voz da repórter:
— Gente, tem chocolate para todo mundo aqui. Fiquem à vontade. Depois agradeçam ao Romeu e aos meus ouvidos pela generosidade…
(…)
Não termino sem antes registrar que, mesmo com esse início um tanto
desagradável, eu e o Romeu viramos bons amigos.
Quanto à Claudinha, logo saiu da redação para casar, e morar fora do País.
Nunca rolou nada entre os dois.
Mas, o pessoal da redação se acostumou a se deliciar com os chocolates com os quais Romeu a presenteava dia sim, outro também…