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O futuro do jornalismo

Em texto recente que aqui postei – Historiador do Cotidiano, veja índice ao lado -, abri discussão sobre o momento de transição que hoje vive o jornalismo. Aliás, como tantas outras profissões. Ou para ser mais generalista, como o próprio Planeta Terra.

As mudanças são rápidas. Muitas vezes, inexoráveis. Quase sempre não perceptíveis aos olhos e sentidos de humanóides, desprovidos de perspicácia; frágeis e limitados. Ou seja, nós.

Retomo o tema hoje em função de três fatos:

01.Outra vez, está na pauta do dia o debate sobre a legitimação da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista;

02. Em sua última coluna, antes de sair de férias da Folha de S. Paulo, o jornalista Clóvis Rossi colocou em xeque a sobrevivência do jornal impresso;

03. Recebi ontem um email do jornalista Orlando Barroso sobre as novas práticas de jornalismo em evidência nos EUA.

II.

Vou começar a polêmica de hoje por este último item.

A mensagem do amigo Orlando me remeteu a um link de uma reportagem de Frank Ahrens, do The Washington Post, desta segunda, dia 4. O enfoque era para o cotidiano de outro repórter, Chuck Myron.

Qual a novidade, então?

Myron tem uma rotina rara em plagas tupiniquins, mas que parece vai virar moda logo, logo, tanto na matriz como na filial. Seu carro é a sua redação.

O jornalista sai pelas ruas de Fort Myers com câmera, filmadora, gravador, tudo digital e com alta tecnologia. Ele cobre o dia-a-dia local e envia as matérias para Redação de seu lap top. Ou seja, pára o veículo numa quebrada qualquer e dá-lhe texto, imagens e todo arsenal informativo que dispõem as novas tecnologias.

O faz-tudo não tem dead lines. Não tem cadeira fixa na Redação. Enfim, dedica todo o seu tempo a perambular pelas ruas à procura de boas pautas.

Ele trabalha para o grupo de comunicação de "Fort Myers News-Press". Suas matérias saem no site e no jornal impresso. Segundo Ahrens, o grupo prepara-se para os desafios do futuro com um jornalismo online e notícias regionalizadas. Os proprietários dão preferência ao site. Só depois vem o jornal impresso.

Explica-se.
A freqüência de acesso ao site aumentou de 58 mil
por semana em 2002 para 140 mil por semana em 2006.

Para ficarmos no exemplo do citado Clóvis Rossi, é como se um dia a Folha On Line superasse o jornal impresso em importância. Os motivos são básicos. Mais notícias, custos são menores, mais atual e, pelo menos lá, parece dar mais lucro.

III.

Sinceramente, não sei se é um avanço.
Temo esse domínio absoluto das novas tecnologias sobre o pensar.
O enxugamento das Redações tem limite, convenhamos.

Aos pardos botões da minha jaqueta, reclamo.
Ouso dizer que há um retrocesso. Exagero?

O imediatismo da notícia pede a mecanização.
Que, por sua vez, impõe a armadilha da técnica simplista
e evita o embaraço da reflexão.

Vão para as cucuias, assim, alguns dos preceitos
fundamentais ao bom jornalismo. Independência.
Espírito crítico. Valorização da reportagem. Apuração.
Texto mais elaborado. Etc etc etc.

Todo um arrazoado básico que cabia, com folga,
no bornal de qualquer jornalista
que se prezasse até meados dos anos 70.

Para os tecnocratas da informação, a utopia virou um fardo.

Amanhã eu volto…

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