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O futuro do jornalismo 4

Bem, senhores, como preconizou Belchior,
ainda nos lendários anos 70, é inevitável.
Mas…
… “o novo sempre vem”.

E ainda bem que assim seja…

Vale para a banda dos descontentes – corinthianos,
palmeirenses, tucanos, pefelistas, cientistas políticos
(que erraram todas as avaliações),
avulsos, abandonados, contrariados e afins…

Que Deus esconda a temporada de 2006!

Vale para quase todo o Planeta – que espera uma nova ordem…
Vale para o jornalismo, também…

Vamos aos fatos.

II.

Números, números, números…
Melhor dizendo, cifras.
Jornalismo virou negócio. Um bom negócio.
Portanto, é aqui que a roda pega…

Todos os anos a indústria da Comunicação movimenta
aproximadamente 500 milhões de dólares em todo o Planeta.
Fala-se, porém, que há um mercado potencial para 3,5 trilhões –
o que pressupõe: há muita coisa para ser feita,
um longo caminho de conquistas e, principalmente, aprendizado…

Os números não são novos. São do fim da década passada.
Foram divulgados em seminário da Cátedra da Unesco,
realizado na Universidade Metodista do Estado de São Paulo,
há alguns bons anos – cinco ou seis, talvez.

Ou seja, merece uma atualização. Para cima, claro.

Basta ver o tanto de produtos, veículos e
possibilidades que surgiu para jornalistas e afins.
Tanto em termos de eletrônico como o de impresso…

Vá até uma banca e veja o tanto de títulos
de revistas segmentadas, sem contar as que
atendem a área empresarial…

IV.

A discussão me parece se dar em duas frentes:

a) a sobrevivência dos jornais diários;
b) o novo papel do jornalista na sociedade.

No primeiro aspecto, convido o nobre leitor a folhear
os jornais de amanhã – Folha de S. Paulo e
O Estado de S.Paulo. Veja o tanto de anúncios em
suas páginas. A beleza do caderno imobiliário
e o taludo suplemento de classificados.

Não há aqui qualquer indício de crise, pois sim?

Qual o problema, então…

A questão é elementar, meu caro.
E, como diria o ex-jogador Sócrates, é estrutural.

V.

As empresas jornalísticas deixaram o jornalismo
em segundo plano para atender as exigências do mercado.
Transformaram o jornal em produto de marketing –
não mais em produto jornalístico.

Ou pior. Fizeram do jornal um ponta de lança
de interesses particulares, nem sempre
compatíveis com a tal verdade dos fatos…

Dá-lhe, então, um produto sem criatividade,
refém das redações enxutas, da hierarquização do poder,
da pauta plantada pela assessoria, da ditadura dos
manuais, do repórter de gabinete – não por culpa dele,
diga-se, mas sim porque precisa fazer cinco, seis
matérias por telefone, emails, agências. –, dos ditames
do comercial sobre o editorial…

Resultado: jornais todos, todos, muito parecidos.
Com enfoques iguais, textos maçantes a consagrar
a notícia de ontem – amplamente divulgada por outros meios.
Mas, repleto de anúncios… Em todos os cantos,
cadernos, editorias, revistas dominicais etc.

Transformaram-se em algo mais próximo
ao catálogo de anúncios…

VI.

Qual seria o novo caminho?
Não tenho, óbvio, uma resposta fechada.

Mas, ouso insinuar alguns passos.

01. Não ir com muita sede ao pote. Anúncio é anúncio.
Importante. Precioso. Mas, a Redação é prioridade…

02. Em vista disto, valorizar o trabalho jornalístico.
Deixar que a opinião da empresa se manifeste única e
exclusivamente nos editoriais – e olhe lá…

03. Apostar na criatividade…
A lida do jornalista está mais para o autoral.
Não somos um mero técnico em informar as pessoas.

Ou como insinua a velha piada que corre solta
entre os publicitários qualquer empresa jornalística:

— Os jornalistas escrevem nos espaços onde
não conseguimos ‘vender’ nenhum anúncio…

É piada, mas não está muito longe da verdade, não…

Sei que os homens do Comercial e os tecnocratas
da informação vão me achar um boboca, visionário…
Mas, é o que penso…

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