Faço a dedicatória rápida e autografo meu livro para o casal de amigos. São gentis e fraternos ao comparecer ao lançamento. Eu os cumprimento, eles se vão.
À minha frente, surge então o garoto de nove/dez anos (se tanto) e quer saber sobre o que eu escrevo. Traz um exemplar de “Volteios” e me entrega à espera do que vou lhe escrever.
Fico um tantinho sem ação.
Por esta, eu não esperava.
O que dizer para um garotão daqueles?
Misturo certo encantamento, com responsabilidade de lhe escrever as palavras exatas.
É o futuro em frente à mesa antiga, em que me posiciono como autor, no piso superior da Livraria da Vila. Ao redor, os amigos, os familiares… Formam rodas e conversam assuntos mil desse Brasil varonil. Parecem felizes, eu mais ainda… Mas, permanecem indiferentes ao que o momento me sugere.
Esperto que só, ele percebe meu espanto.
E, desconfio, tenta me ajudar a construir o breve texto:
— Meu avô sempre diz que a gente conversar com o escritor, que essa aproximação só vai nos fazer bem. Sobre o que é o seu livro?
Falo que são crônicas sobre o real e o imaginário que a vida se nos oferece. Não sei se ele entendeu – na verdade, falo que falo sobre o livro, mas nunca soube resumi-lo a duas ou três frases.
De qualquer forma, rabisco algo com o sentido de que ele nunca se afaste do livro e que cultive o hábito da escrito. Faz um bem danado para a alma, para a vida.
Ele me agradece – e sai todo-todo, senhor dos sonhos e dos caminhos.
A vontade que tenho é de gritar a todos a verdade que ali, naquele preciso
instante, saltou aos meus olhos:
“Amigos, amigos, ainda há esperanças… Há um Futuro entre nós."