Foto: Marcello Mastroianni e Sophia Loren/Reprodução
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Marcello Mastroianni (1924/1996) convida o jornalista Enzo Biagi para uma caminhada e um café num canto qualquer de Bolonha, onde se encontram.
Os dois passaram a tarde toda conversando para o livro que Biagi pretende escrever sobre o notável ator italiano, o preferido do cineasta Federico Fellini.
Mastroianni quer relaxar um tantinho.
Propõe falar de outros assuntos que não seja a própria vida.
É compreensível, mas não o que o jornalista pretende.
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É noite e os dois caminham lado a lado. em silêncio. sob os pórticos da cidade.
Biagi não se contém – e pergunta:
– Que tal falarmos então de Sophia Loren. Houve alguma coisa entre vocês?
Distraidamente, sem se dar conta do real motivo da questão, Mastroianni responde em tom de lembrança:
– Fizemos 12 filmes e todos foram para a América. Um sucesso. Houve até um convite que me chegou para montarmos Filomena Maturano na Broadway. Fiquei todo entusiasmado, achei que não haveria qualquer empecilho. Prontifiquei-me inclusive a levar o convite até Sophia – e convencê-la.
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Vã ilusão.
Marcello foi encontra-la em Paris. Estava que era só entusiasmo.
Tentou ser assertivo:
– Sophia, é uma oportunidade maravilhosa. Já pensou, nós dois na Broadway? Nós, o último par romântico do cinema internacional! Nós no palco, em inglês! Sei que você fala inglês perfeitamente, o meu é mais ou menos. É a montagem do filme que já fizemos. Vamos convidar um amigo para nos dirigir…
– Mas, você está louco – respondeu ela. – Não, nunca. O teatro me dá medo.
– É tolice sua, vamos perder uma oportunidade e tanto – insistiu o ator. – Tente, Sophia, tente. Você verá, vai até lhe´rejuvenescer.
– O quê! Que desaforo. Mas eu sou jovem – respondeu indignada.
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Biagi gostou de ouvir a historieta.
Certamente a incluiria no livro La Bella Vita.
Mas, logo entendeu que precisaria ser mais enfático para tirar de Marcello o que desejaria saber.
– Mas, e aí, Marcello?. Houve alguma coisa entre vocês?
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A reposta veio em tom evocativo:
– Havia tal alquimia entre nós que, chegou um momento, sequer precisávamos ensaiar. Sophia tem todas as qualidades para entrar em cena, sobretudo nos papéis de uma napolitana, de uma mulher do povo.Que pena que não fomos para a Broadway. Mas, vou lhe contar um segredo meu…
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Ufa!
Agora, sim, o biógrafo teria a informava que tanto precisava.
Diz Marcello diz:
– Certos filmes que Sophia fez nos Estados Unidos não me agradam. Nunca lhe disse isso pessoalmente porque a quero bem, mas eram tremendas porcarias. Os filmes mais belos, ela fez aqui, principalmente em Nápoles.
– Só isso Marcello?
– Não. em Um Dia Especial, que não filmamos em Nápoles, ela estava magnífica.
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O jornalista desistiu.
Em outro momento, retomaria o tema.
Alguns instantes, por conta e risco, e para quebrar o silêncio, o ator disse em tom de evocação:
– Existe muito afeto e ternura entre nós. Muitos até acreditaram que havia algo entre nós. Em vez disso ,amigo, posso lhe garantir. Nunca houve nada entre nós. Nada.
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* Trecho adaptado do livro Marcello Mastroianni – La Bella Vita, lançado no Brasil em 1997 pela Ediouro.
O que você acha?