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O historiador do cotidiano 2

Vamos continuar nossa conversa de ontem…

As escolas de jornalismo, como vimos, recebem hoje um público que se auto-define como “das mais variadas tribos”, com propostas de carreiras distintas – quando não, sem qualquer proposta, não nos iludamos, hein!

O desafio maior é dar ao estudante uma base de conhecimentos gerais que o permita entender mundo em que vive e suas vicissitudes. Também incentivá-lo no sentido de que conheça a história da Imprensa e os processos comunicacionais. E, por fim, dotá-los de um certo domínio das técnicas e da linguagem dos diversos veículos em que vão trabalhar no futuro.

Há ainda outro aspecto que precisa ser ressaltado: o do jornalista empreendedor. Cada vez mais, com o enxugamento das redações por contenção de despesas, ganha espaço o chamado jornalista PJ (pessoa jurídica) que gerencia a própria carreira. Quer numa empresa pessoal, quer fazendo frilas, quer prestando serviços diferenciados em área de seu conhecimento.

II.

Para integrá-los nesse cipoal de interesses e conhecimentos, entendo ser importantíssimo adotar o critério balizador das três funções essenciais ao jornalismo. Definição que ouvi tantas vezes de jornalistas como Cláudio Abramo e Mino Carta. Ou seja:

a) o respeito à verdade factual;
b) função crítica e
c) função fiscalizadora…

Assim, seja onde for e qual for a especificidade como jornalista, é importante que o profissional adote esses critérios. Valorize assim a postura independente, de atenção e respeito ao que, desde tempos idos e havidos, se denomina ‘bem comum’.

Queiramos ou não. Ou melhor, queira nosso empregador ou não, os preceitos coletivos sempre se sobrepõem aos individuais e/ou de grupos afins.

III.

Durante uma das entrevistas do concurso do Estadão, ouvi o desabafo de uma estudante: “Quero ser jornalista, mas não quero me prostituir. Não quero trair os meus ideais”. Achei ‘heloisahelena’ demais para o meu gosto. Mas, entendi o que a moça quis dizer. De pronto, me pareceu que ela teria dificuldades em se adaptar ao dia-a-dia das redações.

Não que formamos um bando de traíras, mas ninguém chega a um jornal para ‘poetar’ a bel prazer. As empresas de comunicação têm uma linha editorial claramente definida. Quem vai trabalhar lá deve entender as regras do jogo. Ou concorda com a dita cuja ou cai fora. O que acontece mais freqüentemente: tenta-se uma linha intermediária entre a nossa postura e a da empresa. Algo assim, vergar para não quebrar…

Se a pressão for muito forte, não tem jeito: estamos fora.

IV.

A esse propósito, vale citar o que ouvi do jornalista Carlos Nascimento:

— Muitas vezes, na Globo, eu não disse tudo o que queria. Mas, verdadeiramente,
eu nunca disse o que não queria.

(Amanhã, a gente termina esse papo…)

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