Então…
Naquele 20 de julho de 1969 o astronauta americano chegou à Lua.
Eu tinha 18 anos.
E as más línguas na família diziam que a missão da Nasa por pouco não me encontrou, de bobeira, por lá.
Era um garoto avoado, entrava e saía dos empregos (bancário, lojista, ajudante de agrimensor, pesquisador do Gallup entre outras breves desventuras), gostava de tocar violão e não tinha a menor noção do que seria na vida.
Ah! também gostava de ler os livros que tomava emprestado das Biblioteca Municipal, quase todos de Machado de Assis – e viajava no folhear das páginas.
II.
Por essas belíssimas credenciais, o Conselho das Tias Faladoras das Famílias Martino e Avezzani me comparava ao personagem da novela da moda, o impagável embrulhão Beto Rockfeller, além de me outorgar o precioso titulo “de o lunático do quarteirão”.
Os amigos do pai também colaboravam para a fama:
– Esse rapaz precisa trabalhar. Aprender o que é a vida. Ele vive no mundo da Lua, Ardo!
III.
Meu saudoso pai chamava-se Aldo. Mas o “L” é letra que a italianada do Bar Astória tinha certa dificuldade para pronunciar.
O Aldão tirava de letra a pressão. Queria que eu estudasse. Já a Dona Yolanda, além de fazer promessas para eu arrumar uma colocação, me acordava dia sim e outro também com recortes da sessão de empregos dos jornais de então.
-Vai lá, filho, vai lá. Tenta…
Ô sina!
IV.
Havia me esquecido por completo desses perrengues (que acalmaram quando eu entrei na USP em 72) e só me lembrei deles agora porque não foram poucos os questionamentos que recebi neste fim de semana sobre a inefável pergunta:
“Onde o Sr. estava no dia em que o homem pisou na Lua?”
O pessoal não pode ver um pacato velhinho, como eu, a tomar sol na praça que lá vem eles com ideiazinhas bem marotas.
50 anos depois!
Pensam que a gente é testemunha ocular da História.
Eu, hein!
V.
Dei uma de sincerão.
Não tenho qualquer noção de onde estava e o que fazia naquela data.
Não me vali sequer da desculpa que frequentava as aulas porque em julho, como manda a regra geral, o Colégio IV Centenário dava férias para a rapaziada do segundo ciclo.
Em casa, diante da TV com imagens em preto e branco, certamente não fiquei. Não era hábito meu.
Bem provável que estivesse numa das duas lanchonetes, precursoras da moda no Ipiranga: o Fefe’s Dog e a hamburgueria do Seo Oswaldo, ambas na Bom Pastor.
Era lá que nos encontrávamos.
Também poderíamos ir jogar pebolim no bar do pai do Rubens (que estudava com a gente).
Se não me engano, ficava na rua Lino Coutinho.
O Astrão era o campeão. Mas, nos esforçávamos para acabar com seu reinado.
VI.
Desconfio que frustrei meus interlocutores.
O homem na Lua – e eu e os meus chapinhas em nossos prosaicos programas de rapazes suburbanos.
Queriam o quê?
Desculpem aí.
VII.
Pra não dizer que era assim tão ausente, lembro-me bem de duas coisas:
1 – Teve um pessoal que não levou fé alguma na tal jornada lunar. Disseram que era um truque dos americanos. Haviam encenado tudo nos estúdios em Hollywood para enganar os russos.
As duas nações disputavam, passo a passo, quem chegava primeiro à Lua.
Fiquei na minha.
Em conversa de doidão, é melhor não discordar.
Tem gente que ainda hoje vê Jesus na goiabeira!
Ou não?
2 – O homem na lua – depois vimos as fotos e a cena no cinejornal do Cine Riviera – deu mais veracidade à canção “Lunik 9” de Gilberto Gil, gravada anos antes por Elis Regina.
VIII.
Achávamos lindos os versos desta música.
Como alguém pode falar tão poeticamente dos nossos temores, sonhos e verdades?
Esta, sim, era a pergunta para a qual gostaríamos de ter a resposta.
Naquela época, e agora…
O que você acha?