Foi lá pelos anos 60 que o autor mineiro, Fernando Sabino, escreveu a crônica “O Homem Nu”. Teve enorme repercussão pela sagacidade do tema. Tanto que, anos mais tarde, em 68, a história ganhou as telas do cinema com a assinatura de Roberto Santos e Paulo José como o desafortunado cidadão que, por forças das circunstâncias, se vê nu em pelos, pelas ruas do Rio de Janeiro.
O filme foi um sucesso de crítica, nem tanto de público – era o auge do Cinema Novo.
O roteiro é simples.
Ao tentar pegar o jornal na área do prédio onde mora, o pacato professor de música folclórica, Sílvio Proença, é surpreendido pela porta que se fecha abruptamente às suas costas. Acontece que o homem está pelado – e não consegue voltar para dentro do apartamento. Por mais que insista na campainha, a mulher (a bela Leila Diniz) não o atende. Para evitar o escândalo, ele se esconde dos vizinhos que passam a perseguir o insano “tarado”. Na fuga, Proença acaba na rua e aí a caçada ao homem nu se espalha por toda a cidade.
Na medida em que corre daqui para ali, o professor começa a conhecer um Rio de Janeiro que nunca pensou existir.
No meio do pega-pega, ele até que não se dá de todo mal, não.
Conhece uma mulata fenomenal – a estonteante Esmeralda Barros — e tudo termina bem, depois de tantas e tamanhas confusões.
Lembrei desta história por um fato que aconteceu na manhã deste domingo na praça em frente ao prédio onde moro, em São Bernardo do Campo.
Um motorista peladão – e desconfio que breaco, pois encontraram uma garrafa de uísque do bom vazia dentro do veículo – chapou o seu Chevrolet Camaro de 200 contos em um muro antes de invadir o gramado da referida praça.
Não houve vítimas.
Nem bafafá.
Os policiais levaram o dito-cujo para fazer o boletim de ocorrência.
E lá o distinto se apresentou de cueca e camiseta – sei lá onde lhe arranjaram as sumárias vestimentas.
Acordei no domingo pela manhã – e a vida seguia lépida e faceira. Sem qualquer ruído de anormalidade. Não ouvi sequer um reles comentário sobre o palpitante assunto para animar a conversa na padaria, na banca de jornal, no bom-dia do porteiro.
Nada. Nadinha…
Só fiquei sabendo do babado ontem pela internet.
Vejam vocês o poder das tais redes sociais, onde a notícia dizem que bombou.
Sinais dos tempos…