PERMITAM-ME, CARÍSSIMOS, DAR UM RECORTA-E-COLA NUMA CRONICA QUE AQUI POSTEI EM 2007.
VOCÊS ENTENDERÃO O MOTIVO…
O ILUMINADO
Então, os amigos deixaram para trás a pacata aldeia, onde sempre viveram. À luz daquela manhã, andavam, sem rumo, pelo norte da Toscana. Há dias faziam o périplo da Palavra, pois era esta a missão de ambos por conta e graça de um deles.
Francisco, o iluminado, abrira mão da fortuna paterna, dos títulos de nobreza.
Descobrira a verdade, o caminho e o amor.
A verdade trazia no coração – e nos atos.
O caminho fazia a cada passo. Sem hora para partir, sem hora para chegar.
O amor revelava-se na Palavra e na Fé…
II.
Ao descobrir-se Luz, impregnou de clarividência um grupo de amigos que resolveu acompanhá-lo. Eles entenderam-se discípulos por vontade e risco.
E entregaram-se à Obra…
A Obra começou entre os montes e vales da própria aldeia. Entre os próximos — os humildes, os rotos, os doentes.
E quem mais chegasse.
Os animais, inclusive.
O Iluminado parecia exercer domínio sobre pássaros e lobos.
Não havia dúvida. Vivia ali um santo homem.
III.
Logo a fama do mítico espalhou-se como a canção do vento.
Francisco entendeu mais este chamado.
Outros mais queriam ouvi-lo.
Pois, então…
Dividiu os discípulos em duplas, e todos partiram sem rota definida.
Mas, com a mesma Missão.
IV.
Apenas Clara e algumas amigas ficaram. Cuidariam do cotidiano da Obra, no lugar de construções ocres.
Afinal, fora ali que tudo começou…
V.
Coube ao discípulo Maceu acompanhar Francisco. Por isso, agora estavam ali no caminho.
Era um bom homem; porém com o pecadilho da vaidade. Que, em essência e sem extremos, nem pecado chega a ser.
Ali, ao lado do Iluminado, Maceu sentia-se grande. Um tanto acima do homem comum.
Estrada afora, ia o coração a lhe estufar o peito…
VI.
Até que, em certo momento, o caminho se bifurcou.
Qual direção seguir, perguntou.
— Não sei, retrucou Francisco.
Disse mais:
— Gire em torno de si, amigo. Como se fosse um peão. Faça de conta que é criança. Rode, rode até não poder mais. Como um bambino…
VII.
Maceu assustou-se.
O Iluminado a lhe propor isso?
Porém, não houve como negar.
Então, abriu os braços e girou, girou, girou. Como se fosse um peão, um bambino feliz.
O hábito marron enchera-se de ar.
E não é que assim tomou mesmo as formas ovaladas do brinquedo!
VIII.
Logo veio a tontura, o topor. Esqueceu que outros caminhantes o olhavam admirados.
Todos riam dele. Logo veio o riso solto pra ele também.
Sem noção de tempo, espaço.
Estava prestes a cair quando ouviu a sentença.
— Deixe-se tombar ao chão. Para onde o seu olhar apontar, seguiremos. Esta será a vontade do Senhor.
IX.
Assim se fez… E os amigos seguiram.
Chegaram a Siena onde dois exércitos antagônicos preparavam uma batalha sem fim.
A presença dos missionários, porém, dissipou as desavenças.
Desarmou os espíritos. Não houve luta, nem mortes.
Queriam apenas estar com Francisco de Assis, o Iluminado. Que, ao seguir a vontade do Senhor, acabou por salvar muitas vidas.
* (Padroeiro da Itália, São Francisco de Assis nasceu em 1181 e morreu em 1226. Todos os anos, sua memória e seus feitos são reverenciados no dia 4 de outubro.)