Comemora-se hoje o Dia do Jornalista.
(7 de abril).
Creio que na atual circunstância estou propenso a dizer que “lamenta-se hoje…”.
Escrevo essas maltraçadas com desalento sem fim, mas uma réstia de esperança.
II.
Jornalista por formação e insistência, venho nessa toada pra mais de quarenta anos. Uma existência que me permite dizer que, na profissão, vivi experiências as mais diversas, felizes (a cobertura das diretas, as entrevistas com Rauzito e Elis Regina, entre outros exemplos) e infelizes (a não posse de Tancredo, a eleição de Jânio prefeito de São Paulo, meses após a redemocratização do País) e por aí vai…
Mesmo com os tropeços e os solavancos, sempre que alguém, algum jovem, se apresenta com a ideiazinha de ser jornalista, eu me sinto obrigado a dizer que a profissão não é coisa simples, bem ao contrário. No entanto, não posso lhe tirar um cisco da vontade de realizar este projeto, pois o jornalismo, com todas as barras, me fez um cara (relativamente) feliz e que, já na estrada dos sessenta e tantos, ainda sonha, tem planos e (o mais maluco de tudo) acredita.
III.
Isto posto, falo do meu desalento com o jornalismo que hoje se pratica nos chamados grandes(?) meios de comunicação. Ampla e inteiramente comprometido com o descontrole social que hoje vivemos.
Sei que não sou (e não me arvoro ser) um Alberto Dines da análise comunicacional, mas acho deprimente o discurso único, maniqueísta e, absurdamente, tendencioso que a Imprensa vem usando na cobertura dos fatos políticos que nos aflige.
Ponho na conta dessa cobertura falaciosa o clima de ódio que hoje impera na sociedade. E mais: a falta de diálogo, o justiçamento público, o esgarçamento do tecido social, a ascensão de personagens que acenam com o retrocesso, entre outros fatos e atos que destroçaram o equilíbrio da opinião pública e apontam para o caos.
IV.
Sempre que faço essas observações junto aos meus pares jornalistas, alguns tentam argumentar que a linha editorial dos veículos é traçada pelos donos e seus cães de guardas – os editores mais graduados. Até concordo, mas a rapaziada, convenhamos, não precisa caprichar em ser cão.
Enfim…
Cada um sabe de si.
V.
Mesmo que não tenham a repercussão de um Jornal Nacional, sei que existem núcleos de resistência no âmbito da informação.
Louvo a coragem desse pessoal.
Ainda ontem na própria Globo assisti a uma dessas iniciativas. Foi na calada da noite, é bem verdade, após o futebol.
A reestreia do “Profissão Repórter”, que tem o comando do notável Caco Barcellos, fez uma sensível leitura da crise. Não criminalizou ninguém, não julgou, não fugiu dos preceitos essenciais da verdade factual e do contexto em que ela (a verdade) se insere,
Seus jovens repórteres mostraram fatos e personagens como são.
VI.
Falo sempre aos meus preclaros alunos: as redações estão em crise, o Jornalismo – o bom Jornalismo -, não. Ainda mais no mundo como o nosso afogado em informações.
Falo para a meninada – e lhe dou fé.
São eles que mudam a cara do mundo, do Brasil e do Jornalismo.
É a tal da réstia de esperança que ainda ilumina o caminho.